Valor Econômico
29/11/2019

Por Marcelo Osakabe e Lucas Hirata

Moeda fechou a R$ 4,216, em baixa de 1%; Secex revisou números de exportação

Após superar as máximas históricas por três dias seguidos, o dólar comercial, finalmente, interrompeu a escalada. A moeda americana caiu do começo ao fim do pregão, ajudada pela nova intervenção do Banco Central no mercado. O que garantiu o alívio, porém, foi uma revisão nos dados da balança comercial de novembro, que agora passou a apresentar superávit no acumulado do mês, trazendo uma perspectiva menos pessimista para as contas externas do Brasil.

Logo que os novos números de exportação foram divulgados ontem, o dólar comercial recuou para as mínimas do dia e fechou em baixa de 1%, aos R$ 4,2158, enquanto o contrato futuro da divisa para dezembro cedeu ainda mais, aos R$ 4,190 (-1,75%). O movimento do câmbio abriu espaço para a redução do prêmio de risco nos juros futuros – com menos pressão no real, diminui o receio sobre o efeito do dólar forte na inflação. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2021 caiu de 4,77% para 4,69% na B3, enquanto o DI para janeiro de 2023 baixou de 6,01% para 5,87%.

Ontem, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) informou que foram encontradas “inconsistências” nos números de exportação da balança comercial em novembro, que haviam sido divulgados na segunda-feira. O novo cálculo elevou o saldo de US$ 9,6 bilhões para US$ 13,498 bilhões. Como resultado, o déficit comercial no acumulado deste mês, que era de US$ 1,099 bilhão na segunda, se transformou em um superávit de US$ 2,717 bilhões. Os números de importação não sofreram revisão.

Para Flavio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, a revisão traz números mais condizentes com as projeções de mercado e apaga a impressão de que o déficit comercial estava se deteriorando muito rapidamente na passagem de outubro para novembro. Essa piora na margem lançava certa apreensão sobre os próximos números de transações correntes.

Também na segunda-feira, o BC informou que o déficit em conta corrente em doze meses havia chegado a 3% do PIB em outubro. Como os números da Secex – agora correntes de US$ 5,8 bilhões em novembro, mas agora esse número deve ser bem menor”, diz Serrano.

A inconsistência apontada pela Secex gerou críticas por parte de gestores. Para eles, os números piores que o esperado podem ter pesado em boa parte na disparada do dólar dos últimos dias. “Um erro desses não é trivial”, diz um profissional. “O BC vendeu reservas talvez sem precisar, a curva de juros inclinou, aumentando o custo de captação do governo.”

Vale lembrar que os números comerciais foram divulgados em um dia que coincidiu com alta do déficit em transações correntes e declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o câmbio – fatores que impulsionram a busca por dólar. Nos dias seguintes, entre terça-feira e quinta, o BC precisou intervir quatro vezes no mercado à vista para conter a intensa alta da divisa americana – incluindo uma nova operação ocorrida ontem, com a venda de US$ 1 bilhão.

“O dólar rompeu os R$ 4,20 por causa dos números da balança”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital. “Agora, com os números revisados e o BC dando liquidez, dá para comprar real, mas tem de esperar a situação da América Latina melhorar”, diz.

Apesar da revisão, Serrano, do Haitong, mantém a leitura de que a cotação ficará entre R$ 4,10 a R$ 4,15 no fim do ano. “O fato é que estamos muito próximos do fim do ano e, por uma questão de calendário, acho que não será possível que volte tanto”, diz.