Valor Econômico
29/04/2021

Por Roberto Rockmann

Com a pandemia, concessionárias reforçam recursos em digitalização e drones para aumentar a eficiência e reduzir acidentes

A digitalização tem ganho espaço crescente nas concessionárias de serviços públicos, como forma de elevar a eficiência, reduzir acidentes, diminuir a inadimplência. O movimento tem sido acelerado com a pandemia, já que, por exemplo, no setor elétrico, as agências de atendimento presencial foram fechadas, ampliando o uso de canais digitais pelos milhões de consumidores no Brasil.

Há três anos, a Copel fez sua primeira incursão nas redes inteligentes de energia em um projeto piloto, em Ipiranga (PR). Houve redução de 50% do indicador de duração equivalente de iterrupção por unidade consumidora (DEC) e a leitura, que antes era feita por uma equipe de seis pessoas, passou a ser remota. Ainda foi detectado que na rede da concessionária paranaense, boa parte dos medidores fica depois do disjuntor. Há dificuldade para avaliar se a queda de energia é de algum problema da empresa ou do cliente. Esse foi um dos motivos que levou à empresa investir R$ 250 milhões em rede inteligente.

Com os novos medidores, também fazemos a mudança do posicionamento. Isso reduzirá despacho de equipe, por exemplo”, diz Julio Omori, superintendente de smart grid e projetos especiais. Em razão de inadimplência, algumas vezes, se fazem 100 mil cortes por mês. “Os religamentos podem ser automáticos, o que pode gerar também redução de custo operacional.” A Copel prevê retorno de dois dígitos com o projeto em seis a sete anos, com principal motivador: a redução de despesas operacionais.

Na cidade de São Paulo, a Enel também vem trabalhando com novas soluções tecnológicas de olho não apenas em reduzir despesas, mas se preparar para novos produtos que passam pelas redes de energia e poderão se tornar receita do futuro das concessionárias.

A gigante italiana tem um projeto de cidade inteligente instalado no bairro da Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, onde foram instalados sensores nas latas de lixo, com ferramentas de inteligência artificial para prever quando o crescimento de uma árvore pode causar problemas.

na rede de distribuição, hoje um dos principais motivos de desligamento involuntário. “A rede de iluminação é a espinha dorsal das cidades inteligentes, muitos novos serviços e soluções poderão ser criados, estamos olhando todas essas interações”, diz o presidente da Enel, Nicola Cotugno.

A inteligência artificial vem sendo usada em novas áreas na EDP. As disputas judiciais da concessionária com clientes ganhou nos últimos meses um novo ambiente: uma plataforma on-line vem sendo testada em 400 casos de consumidores. A ideia, feita em parceria com a startup eConciliadora, é reduzir prazos e custos.

No setor elétrico, a digitalização não avança apenas nas distribuidoras, elo mais próximo dos consumidores finais. As comercializadoras também investem de olho na ampliação do mercado livre, cujo desenho tende a ser mais varejo e menos atacado. A 2W Energia tem investido em inteligência artificial para obter mais dados de clientes interessados em migrar para o ambiente livre.

Hoje, é possível fazer a migração em poucos cliques e baixar um aplicativo para ter informações sobre demanda e preços. A massa de algoritmos passa a se tornar uma importante forma de conhecer os clientes e prospectar novos negócios a partir de perfis similares de outros potenciais consumidores livres em outras regiões. Recentemente, a empresa firmou parceria com a Liga Ventures para criar um ecossistema de inovação para o setor de energia. “Nascemos como comercializadora, mas nos vemos hoje como provedores de soluções e com essas informações podemos oferecer um leque amplo de opções”, diz o presidente da empresa, Claudio Ribeiro.

Em saneamento, a Aegea tem usado cada vez mais os recursos digitais para operar suas concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) espalhadas pelo país. Ao assumir o contrato de uma PPP no Rio Grande do Sul, em plena pandemia em 2020, a empresa fez uso mais intenso de drones para sobrevoar as mais de cem instalações abrangidas pelo contrato. Em cada instalação, foi feita pelo menos uma hora de voo, o que resultou em milhares de fotos de alta resolução, que foram processadas em 3D.

Nas rodovias, os drones têm sido incorporados à operação das concessionárias. Um exemplo está na CCR e na ViaOeste, concessão no Estado de São Paulo que inclui a rodovia Castelo Branco, que interliga a capital à região de Sorocaba. Os drones são usados para estudos de tráfego, facilitando a identificação de incidentes que interferem na condição de fluidez e segurança das rodovias, permitindo que os controladores tenham outros ângulos além dos que as câmeras de monitoramento criam.