Valor Econômico
27/01/2020

Por Sergio Adeodato

Fim da vida útil de aterro sanitário pede novas soluções tecnológicas para o lixo

Dez anos após a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10), que consumiu duas décadas de debate no Congresso Nacional, a maior e mais rica metrópole brasileira coleta diariamente 20 mil toneladas de lixo, recicla apenas 3% a 7% e agora se vê pressionada a achar soluções porque a vida útil do único aterro sanitário sob gestão municipal – a Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL) – está chegando ao fim. Na falta de espaços na área urbana de São Paulo e entorno, enterrar resíduos se torna cada vez mais difícil e caro e, se a realidade não mudar, a alternativa poderá ser exportá-los.

Na mais recente investida contra o problema, São Paulo tornou-se a primeira capital a proibir utensílios descartáveis de plástico em bares, restaurantes, padarias, hotéis e demais estabelecimentos comerciais. Depois da restrição ao canudo, em vigor desde novembro, agora copos, pratos, talheres e outros plásticos de único uso deixarão de ser fornecidos aos consumidores, conforme a lei sancionada em 13 janeiro com prazo de um ano para adequação do mercado.

“Proibir faz parte do processo de educação e espera-se aumentar a conscientização quanto a todos os tipos de resíduo”, argumenta o vereador Xexéu Tripoli (PV), autor do projeto de lei, ao lembrar que a capital paulista assinou em 2019 o Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico. O material representa 16,7% do que é levado aos aterros. “Não sabemos até que ponto a proibição resolverá o problema ou criará outros”, diz José Ricardo Roriz há 3 horas Suplementos Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), considerando a lei uma “decisão precipitada”. Os empresários do setor, diz o executivo, estão sendo orientados a lidar com um novo cenário: “É preciso direcionar produtos e embalagens para a economia circular, com reutilização e redução de resíduos, mas o desafio requer mudança de hábitos de consumo”.

De acordo com a indústria, 25% das embalagens e plásticos de único uso são reciclados no Brasil. Por outro lado, pesquisa do WWF citando dados do Banco Mundial aponta índice de 2% para o plástico em geral – quadro também associado aos desafios do serviço municipal de coleta seletiva para reciclagem. “A meta é universalizar o atendimento em São Paulo até o fim do ano”, informa Cristina Helena Fabris, gerente de planejamento da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb).

A coleta seletiva cobre hoje 76% das ruas e os resíduos recicláveis são destinados a 25 cooperativas de catadores habilitadas pela prefeitura, além de duas centrais mecanizadas de triagem que operam abaixo da capacidade (250 toneladas/dia, cada). Existem na cidade cerca de 1 mil contêineres que recebem resíduos deixados pela população e o objetivo é aumentar para 4 mil até dezembro. No esforço de reduzir o despejo em aterros, foram instalados pátios de compostagem que transformam o lixo orgânico das feiras em adubo, mas ainda assim os indicadores de reciclagem se mantêm baixos.

“O obstáculo está na baixa tecnologia e no comportamento do cidadão”, analisa Carlos Silva Filho, diretor da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Devido à separação incorreta nas residências, metade dos resíduos chega às cooperativas sem qualidade para reciclagem e vira rejeito a ser levado aos aterros. “Na retomada da economia, aumentará a produção de lixo e a cidade precisa se preparar com soluções tecnológicas de modo a não enfrentar graves problemas nos próximos anos”, adverte o Silva. Entre as possibilidades, está em estudo a construção de um ecoparque destinado a processar um quarto do lixo domiciliar.