Valor Econômico
01/06/2020

Por Taís Hirata

A companhia mineira, que foi incluída no rol de desestatização do BNDES, terá que ampliar os investimentos privados para atingir meta

A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que acaba de entrar para a carteira de privatizações do BNDES, calcula que precisará investir entre R$ 22 bilhões e R$ 25 bilhões para universalizar o acesso a água e esgoto nos mais de 600 municípios onde atua.

Para que a empresa consiga cumprir essa meta até 2033 – prazo definido pelo novo marco legal do saneamento básico -, será preciso buscar novos investimentos privados, afirma Carlos Eduardo de Castro, presidente da companhia mineira.

A nova legislação, que busca ampliar a participação de empresas privadas no setor de saneamento básico, já foi aprovada pela Câmara, mas ainda aguarda votação do Senado. Mesmo sem a aprovação, porém, a companhia vem se preparando para cumprir os requisitos que passarão a ser exigidos, afirmou o executivo, em conversa com o Valor.

Neste ano, a companhia mineira deverá investir R$ 850 milhões em sua operação. Nos próximos anos, o montante deverá subir para R$ 1,25 bilhão. “Esse é o volume que conseguimos fazer no cenário atual. É um aumento em relação aos anos passados, mas não o suficiente para dar velocidade ao ritmo de investimentos”, afirma o presidente.

A possível privatização da Copasa passará a ser estudada pelo BNDES, que na semana passada recebeu autorização para contratar as consultorias que farão os estudos. O governo estadual vem defendendo uma venda completa da empresa, mas a análise do banco poderá apontar outros formatos, como concessões ou Parcerias Público Privadas. Hoje, a Copasa já é uma empresa mista, com ações negociadas na Bolsa. O Estado, porém, ainda detém o controle, com 50,04% das ações.

A perspectiva de venda da Copasa animou o mercado, que vê grande potencial na operação. Porém, analistas veem uma série de entraves políticos para que a privatização se concretize – o principal deles é a necessidade de alterar a Constituição do Estado, que hoje exige a realização de um referendo popular para autorizar a vendas de estatais.

Castro prefere não debater as possíveis modelagens, já que esta será uma decisão do Estado.

“Nosso trabalho hoje é, independentemente da desestatização, tornar a Copasa mais eficiente, para que possamos competir no futuro mercado que se formará com o novo marco legal”, diz.

O executivo, que antes de assumir a empresa era diretor de uma das maiores operadoras privadas do setor, a Águas do Brasil, entrou na Copasa com a missão de reestruturar a companhia, reduzir gastos e melhorar a operação.

Desde então, foram cortados cargos de gerência, as diretorias de operação foram fundidas em uma só e foi montada uma divisão para cuidar da regularização e renovação dos contratos com os municípios. Um dos próximos passos da gestão, diz ele, é o lançamento de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), que deverá ficar pronto no início de 2021.

“A Copasa está em transformação. Ainda não está pronta, mas nosso objetivo é que, no futuro, possamos disputar bons contratos, em licitações em qualquer região do Brasil, não apenas em Minas Gerais”, afirma.

Para ele, a atuação para além do Estado é um planejamento que independe do resultado da desestatização. “Obviamente há desafios em relação ao volume de investimentos. Mas enxergamos um cenário em que podemos perder alguns contratos, mas ganhar outros”, diz.

Assim como outras companhias do setor, a Copasa tem sido afetada pela atual crise, que elevou os índices de inadimplência. Por conta da pandemia, a empresa deixou de fazer o corte dos serviços daqueles que não pagem a conta, postergou o pagamento de tarifas de famílias de baixa renda e tem renegociado dívidas pendentes dos clientes.

Ao fim de abril, a inadimplência atingiu um patamar de cerca de 20%, mas ao longo de maio a companhia já tem visto uma queda dessa taxa, segundo ele.

O executivo também afirma que a Copasa tem situação de caixa confortável para fazer frente aos investimentos previstos no atual plano. Há uma perspectiva de fazer uma nova captação de recursos, por meio de debêntures, mas a empresa vai aguardar melhores condições de mercado.