Valor Econômico
01/10/2020

Por Taís Hirat

Primeiro leilão sob novo marco teve propostas muito acima do esperado; empresa do fundo canadense Brookfiel ofereceu R$ 2 bilhões

A BRK Ambiental venceu o leilão realizado ontem pelo governo de Alagoas e assumirá, por 35 anos, a concessão de água e esgoto em 13 cidades da região bilhões, que superou todas as expectativas do governo estadual e do BNDES. “Foi uma surpresa grande. Qualquer lance superior a R$ 1 bilhão já ficaria acima do esperado”, disse Rodrigo Bertoccelli, sócio do Felsberg Advogados, que trabalhou na estruturação do projeto junto ao BNDES.

A BRK não era a única com forte interesse no contrato. No leilão, que foi realizado na sede da B3, em São Paulo, houve outras três ofertas acima da faixa de R$ 1 bilhão. Durante a abertura dos envelopes, a plateia aplaudiu muito esses lances, e a equipe responsável pelo projeto demonstrou clara surpresa e euforia diante dos valores anunciados.

Apesar da disposição surpreendente dos concorrentes, a BRK não deixou espaço para disputa. Sua proposta superou em R$ 500 milhões a do segundo colocado, o consórcio formado por Iguá Saneamento e Sabesp, que deu um lance de R$ 1,48 bilhões. Com isso, não chegou nem mesmo a haver concorrência por viva-voz – prevista no edital caso a diferença entre o primeiro colocado e os demais fosse inferior a 20%.

Outro destaque foi o consórcio liderado pela Equatorial Energia – que era uma grande expectativa para a disputa, já que a companhia é responsável pela distribuição elétrica de Alagoas. A empresa ofereceu R$ 1,29 bilhão de outorga. A Aegea Saneamento também chamou a atenção, com uma proposta de R$ 1,21 bilhão. Ao todo, sete grupos concorreram.

Além da outorga, que será paga ao Estado, a BRK terá que investir R$ 2,6 bilhões ao longo dos 35 anos de contrato. Desse valor, R$ 2 bilhões serão aplicados em até oito anos. A companhia terá que universalizar o abastecimento de água em até seis anos – hoje, a taxa é de 89%. Já os serviços de esgotamento sanitário terão um prazo maior, de 16 anos, para atingir ao menos 90% da população – o índice atual é de 27%.

Após a vitória, o diretor financeiro da BRK, Sérgio Barros, comemorou o resultado e defendeu a proposta do grupo. “A empresa fez estudos detalhados e tem implementado processos de eficiência operacional. Isso nos traz capacidade de estudar no detalhe investimentos realizados e custos incorridos nas operações. É um trabalho de engenharia, comercial, que nos permitiu chegar a uma proposta justa”, disse.

A companhia pretende realizar o pagamento da outorga e dos investimentos bilionários com uma mistura de equity, empréstimos e emissões, afirmou o executivo. “Contamos com uma gama de potenciais financiadores”, disse. Nesta semana, a empresa aprovou em Assembleia Geral um aumento de capital de R$ 636,94 milhões. Além disso, o grupo comunicou, nos últimos dias, uma emissão de debêntures no valor de R$ 1,1 bilhão.

A forte disputa vista no leilão é decorrente da boa estruturação do edital, além do fato de não se tratar de um projeto tão complexo e arriscado, avalia Fernando Vernalha, sócio do VGP Advogados. Para ele, porém, ainda está por vir uma onda de novos investidores. “Não houve tempo para engajar empresas estrangeiras. A pandemia prejudica isso também, mas acho que o novo marco legal do setor ainda é uma novidade, há indefinições”, avalia.

Para analistas, o leilão era visto como termômetro dos investidores, já que foi o primeiro realizado após a implementação da nova lei do saneamento. O projeto, porém, também deixou claro que as tentativas de judicialização continuarão sendo um risco.

No caso do leilão de Alagoas, o governo buscou ao máximo monitorar possíveis ações, mas não pode evitar uma noite de tensão, devido a uma liminar da Justiça alagoana, concedida ontem por uma desembargadora, que determinou a suspensão da concorrência de hoje. A equipe conseguiu reverter a cautelar, com uma decisão do presidente do tribunal, duas horas antes do evento.