Valor Econômico
10/05/2021

Por Álvaro Campos

Quatro grandes bancos tiveram lucro combinado de R$ 21,838 bilhões no primeiro trimestre, que representa um salto de 55,6% em relação aos primeiros três meses de 2020

Uma recuperação no resultado dos quatro grandes bancos já era esperada no primeiro trimestre, mas ela foi mais forte do que se esperava. Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil (BB) tiveram lucro líquido de R$ 21,838 bilhões, que representa um salto de 55,6% em relação aos primeiros três meses de 2020.

Foi um desempenho ainda mais reluzente que a estimativa de R$ 19,88 bilhões na média das projeções compiladas pelo Valor junto a dez casas de análise.

Os bancos sinalizaram que o pior ficou para trás, e se mostraram moderadamente otimistas com a economia. Isso não significa que não há incertezas pela frente. O impulso para os resultados veio da forte queda das despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) – reforçadas no primeiro trimestre do ano passado, quando a crise estourou. A margem financeira começa a mostrar recuperação, mas receitas de tarifas seguem pressionadas. A inadimplência não veio até agora, e a expectativa é que fique aquém do patamar de outras crises. Um tema que dominou as falas dos presidentes dos bancos foi a busca por ganhos de escala e eficiência, em meio a um cenário de competição mais acirrada e novas tecnologias.

A margem financeira combinada subiu 5,5%, a R$ 62,207 bilhões, com a ajuda da tesouraria. Enquanto isso, as despesas com PDD caíram 46,1%, para R$ 14,039 bilhões e as receitas de tarifas encolheram 0,1%, a R$ 31,192 bilhões. As despesas operacionais caíram 0,3%, para R$ 38,436 bilhões.

“Estamos otimistas, mas um pouco cautelosos”, comentou o novo presidente do BB, Fausto Ribeiro, que disse ver a possibilidade de o lucro deste ano ficar no topo das projeções feitas pelo banco. Ele afirmou que o programa de eficiência anunciado em janeiro – que contribuiu para a queda do seu antecessor, André Brandão – está mantido. Na ocasião, o BB anunciou o plano de fechar 361 unidades e promover o desligamento voluntário de cerca de 5 mil funcionários, que desagradou o presidente Jair Bolsonaro. No primeiro trimestre, foram fechadas 447 agências e postos de atendimento e desligadas 3.797 pessoas.

Os bancos têm perspectivas moderadamente otimistas para a economia. “Dado o represamento da atividade e um represamento artificial da própria poupança, não é impossível se ver um ‘boom’ de consumo em determinado momento”, disse Sérgio Rial, presidente do Santander. Para ele, o país está bem posicionado para aproveitar a alta das commodities.

Octavio de Lazari Jr, do Bradesco, vai na mesma direção. “No comecinho do ano parecia que estava patinando, sem sair muito do lugar, mas no finzinho de janeiro já vimos uma movimentação maior, em termos de transações dos clientes, crédito pessoal. E houve crescimento contínuo em janeiro, fevereiro, março, e abril foi melhor ainda que o primeiro trimestre. A tendência parece muito mais positiva”, afirmou. Mas com uma ressalva: o avanço na vacinação é condição “sine qua non”

O Itaú foi o banco que registrou a maior queda na PDD, mas a margem financeira se recuperou menos que nos rivais privados. O presidente do banco, Milton Maluhy Filho, disse que não vê a rentabilidade (ROE) voltando no curto prazo para o que era antes da pandemia. Em 2019, esse indicador chegou a 23,7%, e no primeiro trimestre deste ano ficou em 18,5%. Segundo ele, as condições não são tão favoráveis como há dois anos.

A inadimplência oscilou levemente em relação a dezembro, mas continuou bem abaixo do patamar de março de 2020. No início da pandemia, a expectativa era de que o indicador atingisse um pico no fim do ano passado, com o fim do auxílio emergencial e das prorrogações de contratos de crédito. Agora, a expectativa é que o ponto máximo do atual ciclo só chegue no fim deste ano, e fique em torno do patamar de antes da pandemia. “Prever a taxa de inadimplência neste momento é muito difícil. É como prever o dólar, porque há muita incerteza, então não vou arriscar cravar um patamar. Mas deve ficar abaixo do que era nosso número antes do início da pandemia, na casa de 3% no portfólio total”, disse o vice-presidente de gestão de riscos do BB, Carlos Bonetti.

Enquanto isso, os bancos aceleram a digitalização e a busca por parceiros para tentar recuperar receitas de tarifas. O Itaú disse que seu iti tem 6 milhões de usuários e deve chegar a 15 milhões no fim do ano. O next, do Bradesco, tem 4,4 milhões e deve terminar 2021 com 7 milhões. O Santander comprou a corretora Toro e vai reforçar a plataforma de investimentos. E o BB analisa a possibilidade de ter um sócio para sua gestora.