Valor Econômico
10/12/220

Por Lucinda Pinto, Marcelle Gutierrez, Lucas Hirata e Sérgio Tauhata

Por outro lado, pareceu evidente a intenção do Banco Central de retirar o ‘forward guidance’

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a decisão de manter a Selic em 2% ao ano deixou evidente a intenção do Banco Central (BC) de retirar o “forward guidance”, ou seja, a prescrição futura da política monetária, nas próximas reuniões, e sinalizou para um início da subida de juros no ano que vem. Mas economistas e analistas ouvidos pelo Valor não tiveram consenso sobre o momento no qual a autoridade vai tirar de cena a orientação ou quando vai iniciar o ciclo de alta.

O sócio fundador da Novus Capital, Luiz Eduardo Portella, ressaltou que o forward guidance estava atrelado à queda de juros. Tirar o instrumento não significa que o BC vá subir no curto prazo, mas sim que desistiu de novo corte. “Se não tem mais espaço para queda, não precisa mais de forward guidance”, explica. Portella considera que, de fato, cresceu a chance de o BC elevar juros no meio do ano contra 4% na projeção anterior. “Mas isso, por outro lado, deve contribuir para reduzir os juros de longo prazo.

O tom mais duro do comunicado e os sinais de alerta com a inflação não significam que o colegiado elevará a Selic tão cedo, avalia o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks. “Foi surpreendente [a sinalização de retirada do forward guidance] e mais ‘hawk’ [favorável ao aperto] que o esperado.”

Segundo Weeks, “ao indicar que as condições para a manutenção do forward guidance podem não ser mais satisfeitas em breve, ele sinaliza que poderá retirá-lo na próxima reunião” em janeiro. O economista da Garde entende que alguns fatores levaram o Copom a assumir a postura mais firme, como suas projeções para inflação em 2022, que estariam mais próximas da meta. Por conta disso, Weeks calibrou a projeção para o início de uma normalização da política monetária para o último trimestre de 2021, ante leitura anterior de que a Selic só subiria em 2022.

O economista reconhece que, de fato, a inflação sofre com um descompasso entre oferta e a demanda, aumento de preços de alimentos e repasse cambial. No entanto, esses elementos tendem a se dissipar ao longo de 2021 com a normalização da economia, fim das medidas de auxílio e aumento da oferta de alimentos, além de apreciação do real. “Apesar de uma futura retirada do forward guidance, não vemos o BC subindo juros tão rápido”, afirma.

Para a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, o BC “vai deixar de lado o forward guidance nas próximas reuniões, mas isso vai depender da comunicação do [presidente da autoridade] Roberto Campos Neto e dos diretores”. Segundo ela, “na nossa visão, o cenário é de queda do forward guidance ao longo do primeiro trimestre e subida de juros em maio”.

O diretor do ASA Investments, Carlos Kawall, também viu o BC, surpreendentemente, mais duro. “O comunicado foi mais ‘hawk’ do que a gente esperava.” De acordo com o economista, “a expectativa era que a mudança viesse mais para março, mas pode ocorrer já na próxima reunião”.

O economista-chefe da Mauá Capital, Alexandre Ázara, vê o forward guidance saindo de cena já na reunião de janeiro. “Em janeiro, ele deve retirar o forward guidance e, em março, avisa que o ano de foco majoritário já será 2022. Com isso, sobe em junho ou em agosto”, afirma.

Conforme a economista da ARX Investimentos, Elisa Machado, “temos como cenário base o início da normalização no segundo trimestre de 2021”. No cenário da casa, a Selic chegaria no fim do ano em 4% ou 4,5%.

A economista sênior da LCA, Thais Marzola Zara, vê o Copom começando a subir os juros novamente em agosto de 2021. A Selic então terminaria 2021 em 3% ao ano. “A gente tem essa expectativa, mas pode ser que [a alta de juros] venha um pouco antes, vai depender da atividade no primeiro semestre e as perspectivas de inflação para 2022.”

Já o economista e sócio da Tendências, Silvio Campos Neto, acredita no fim do forward guidance no primeiro trimestre e o início de um novo ciclo de alta da Selic apenas no quarto trimestre. “Um aumento de juro pode precisar ainda de um bom tempo porque as condições econômicas ainda demandam um grau elevado de estímulo”. No cenário da Tendências, o próximo ano terminaria com Selic em 3% ao ano