Valor Econômico
12/06/2020

Por Rafael Bitencourt

Pesquisa monitora a presença do novo coronavírus em amostras de esgoto coletadas nas cidades mineiras de Belo Horizonte e Contagem

Uma pesquisa que monitora a presença do novo coronavírus em amostras de esgoto coletadas em diferentes pontos do sistema de esgotamento sanitário das cidades mineiras de Belo Horizonte e Contagem indicou um nível de contágio da população até 10 vezes maior ao registrado pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais nas duas localidades. A informação consta no boletim da oitava semana de acompanhamento divulgado nesta sexta-feira pela Agência Nacional de Águas (ANA).

As amostras são coletadas nas bacias hidrográficas dos ribeirões Arrudas e do Onça. O boletim de hoje indicou que foi detectado o vírus em 100% das amostras da bacia do Onça, contra 80% na quinta e sexta semanas de coletas. Na bacia do Arrudas, também foi registrado aumento da presença do vírus, que passou de 71% na semana anterior para os atuais 86%.

De acordo com os pesquisadores, a carga viral detectada no esgoto aponta para mais de 20 mil pessoas infectadas com o novo coronavírus, o equivalente a 0,6% de toda a população interligada aos sistemas de tratamento monitorados. A projeção de casos contrasta com 2,3 mil pacientes que testaram positivo para a covid-19 na região abrangida pelo estudo, conforme registado pela Secretaria de Saúde do Estado.

Em nota, a presidente da ANA, Christianne Dias, ressaltou que o projeto envolve um modelo de monitoramento indireto do vírus. Na prática, os dados do estudo auxiliam os gestores e profissionais da saúde e da infectologia no enfrentamento da pandemia.

“Sabemos que a testagem em massa da população, considerando quem apresenta sintomas e quem não apresenta sintomas, ainda é algo distante de ser feito nas cidades brasileiras. Esse mapeamento vai além da testagem das pessoas que desenvolvem covid-19 e apresentam sintomas. Inclui também os assintomáticos, além daqueles que tiveram sintomas leves e não recorreram ao sistema de saúde. Tais dados não seriam obtidos nem mesmo com a testagem total da população”, disse a presidente da agência reguladora.

O projeto realizado pela ANA em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Secretaria de Saúde do Estado. A etapa inicial terá duração de dez meses.

Os pesquisadores consideram que não há evidências da transmissão do vírus através das fezes, pois o objetivo do estudo é apenas indicar as áreas com maior incidência da doença a fim de prevenir a ocorrência de novos surtos.