Valor Econômico
25/06/2021

Por Anaïs Fernandes

Relatório de Inflação menciona variação do impacto da pandemia na atividade ao longo do tempo

Análise do Banco Central confirma a relação negativa entre a crise sanitária e o nível de atividade no Brasil, porém, ela não se mostra constante ao longo do tempo e sua sensibilidade, na verdade, diminuiu em 2021 até abril, o que pode ajudar a explicar a surpresa positiva com os dados econômicos no período.

As conclusões constam de um exercício da autoridade monetária apresentado no Relatório de Inflação (RI) de junho, divulgado ontem. “A mudança nessa relação ajuda no entendimento da surpresa positiva com a atividade econômica desde o último Relatório de Inflação [março] apesar da intensificação da crise sanitária”, diz o BC.

No modelo usado, a associação entre a intensidade da pandemia e a atividade econômica, com controle para efeitos-fixos de localidade e tempo, reflete “estritamente como a atividade econômica em um determinado local responde a mudanças na epidemia naquele mesmo local”, explica o BC.

O Índice de Atividade Econômica Regional do Banco Central (IBCR) foi usado como aproximação para a atividade, enquanto a intensidade da pandemia foi medida pela média diária por milhão de habitante de óbitos por covid-19 ou de internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). A amostra compreende o período entre abril de 2020 e abril de 2021.

“Para as duas métricas, o coeficiente de inclinação estimado é negativo, indicando que um agravamento da crise sanitária está associado a deterioração da atividade econômica”, diz o BC.

O relatório observa ainda que o nível de atividade está positivamente associado a um aumento da mobilidade, mas há uma relação negativa entre a mobilidade e a intensidade da pandemia “Os coeficientes estimados sugerem, como esperado, que a relação negativa entre pandemia e atividade econômica se dá pela piora da mobilidade”, aponta o relatório.

Para avaliar se a sensibilidade da relação entre atividade e o agravamento da pandemia mudou ao longo do tempo, o BC também fez estimativas em janelas móveis de três meses. A autoridade monetária observou que a relação entre a intensidade da pandemia e o nível de atividade foi mais forte no início da amostra e diminuiu, deixando de ser estatisticamente significativa, nas janelas que se iniciam em julho de 2020 ou depois e terminam em dezembro ou antes.

“Nas janelas com amostras que começam a partir de novembro de 2020 e terminam até abril de 2021, o coeficiente da associação entre a pandemia e a atividade voltou a ser significativo. Para o período até fevereiro de 2021, o tamanho do coeficiente estimado foi próximo ao do início da pandemia”, nota o BC. Nas últimas duas janelas, porém, que têm dados exclusivamente do ano de 2021 (janeiro a março e fevereiro a abril), o coeficiente estimado foi menor, apesar do recrudescimento da pandemia.

Isso significa, diz o BC, que recentemente houve uma redução da sensibilidade da atividade econômica à intensidade da pandemia, fato que, segundo o relatório, pode estar ligado à surpresa positiva com os dados da atividade econômica no período.

Os modelos sugerem que a redução da sensibilidade da atividade à pandemia ocorreu tanto pela redução da associação da mobilidade com a questão sanitária, quanto pela diminuição do impacto da mobilidade no nível de atividade. “O resultado é compatível com a ideia de que houve aumento da capacidade de produção e consumo para um dado nível de mobilidade”, diz o BC.

Em outro exercício no RI, a autoridade monetária avaliou ainda que os desafios enfrentados pelo IBGE para realizar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua na pandemia – com a migração da coleta presencial de dados para o telefone e consequente redução da taxa de respostas – não parece ter implicado mudanças relevantes em importantes indicadores da pesquisa, como a população ocupada e a participação no mercado de trabalho.