Valor Econômico
23/04/2020

Por Daniel Rittner

Pandemia afeta liquidez e tem impacto sobre os potenciais interessados

A esmagadora maioria dos executivos na área de infraestrutura acredita que a crise econômica e sanitária, em virtude do novo coronavírus, poderá prejudicar o cronograma das concessões prometidas pela União e pelos Estados em 2020. Essa é a percepção de 97,4% dos entrevistados pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), em pesquisa ainda inédita, que ouviu 154 executivos responsáveis por liderar investimentos e contratos no setor.

Para o presidente da Abdib, Venilton Tadini, a pandemia de coronavírus tem impacto sobre potenciais interessados. “A liquidez extrema no mercado internacional foi afetada e há insegurança na aplicação de capital. É muito provável que, durante um bom tempo, os investidores procurem o porto seguro das nações mais desenvolvidas, principalmente títulos do governo americano, para conservar sua riqueza”, observa.

Na avaliação dele, outro ponto que levanta dúvida é o nível de demanda e de retorno das concessões no imediato pós-pandemia. Por isso, Tadini acredita que, enquanto se resolvem eventuais reequilíbrios econômicos necessários nos contratos atuais e se estruturam melhor os próximos leilões, a saída é acelerar o gasto público na retomada de obras paralisadas. “Precisamos ter clareza de que, dadas as condições de incerteza, os primeiros projetos para movimentar o setor privado devem decorrer de investimentos do Estado”, acrescenta.

Gustavo Gusmão, diretor-executivo para o setor público e infraestrutura da EY, opina: “Cautela é a palavra de ordem dos investidores. O mercado não está totalmente parado, mas olhando com muita atenção tudo o que está acontecendo. No caso específico do Brasil, vemos que se mantém o interesse dos investidor e a desvalorização do câmbio pode até constituir um atrativo, porque o dinheiro dos estrangeiros passa a valer mais por aqui”.

Para Gusmão, de um lado os investidores veem com preocupação a instabilidade política no Brasil. De outro, encaram a atuação do Ministério da Infraestrutura como serena e equilibrada, sem interromper a estruturação das novas concessões por causa das respostas mais imediatas para lidar com a crise do coronavírus.

Em uma escala de zero a dez, os executivos responderam ainda se acreditam nas chances de aprovação, ainda em 2020, de projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional e estavam no topo da agenda antes da pandemia. O maior otimismo é quanto ao novo marco legal do saneamento básico (5,6), seguido pela nova lei geral das concessões e PPPs (5,1), a reforma do setor elétrico (4,8) e a reforma do setor ferroviário (3,9)