Valor Econômico
22/01/2020

Por Thais Carrança e Daniel Rittner

Ministro diz a investidores que confia na reforma tributária e que investimentos estão de volta

O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer ontem, em Davos, na Suíça, que o baixo crescimento da economia brasileira não foi algo que ocorreu repentinamente, mas que o país já voltou à rota da expansão, devendo registrar altas de 1,2% do PIB no ano passado e 2,5% neste ano. Ao participar do painel “Strategic Outlook: Latin America” no Fórum Econômico Mundial, Guedes citou a reforma da Previdência, a redução do pagamento dos juros da dívida e a possibilidade de congelamento dos salários no setor público como as principais medidas que estão sendo tomadas pelo governo Bolsonaro para controlar a despesa pública.

Na semana passada, a Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, divulgou sua atualização bimestral dos parâmetros macroeconômicos, apontando estimativa de um crescimento da economia de 2,4% em 2020 e 1,12% em 2019, cujo dado oficial será divulgado em 4 de março pelo IBGE.

Guedes mostrou confiança na aprovação da reforma tributária em 2020. Disse que o ambiente no Congresso está mais desanuviado. A proposta do governo será enviada em fatias a uma comissão mista para evitar “confronto de PECs” [propostas de emendas à Constituição], disse.

No primeiro dia de reuniões em Davos, Guedes teve uma agenda intensa de reuniões bilaterais. Ele esteve com executivos do banco suíço UBS, da siderúrgica indiana ArcelorMittal, da Visa, da petroleira Chevron e do fundo de pensão canadense CPPIB.

De acordo com o relato do ministro, houve elogios e uma renovação das apostas dos investidores no Brasil. “Todos acreditam que o Brasil vai na contramão do mundo. O mundo desacelera, o Brasil está acelerando o crescimento.”

Ele mencionou, por exemplo, que o investimento direto estrangeiro subiu 25% no ano passado e o Brasil tornou-se o quarto maior destino global de capital produtivo vindo de outros países. Se o megaleilão do pré-sal tivesse leiloado todos os quatro blocos ofertados, segundo Guedes, o país teria ido para a terceira posição. O ministro lamentou que os brasileiros “só ficam metendo o pau” no governo, mas “estamos fazendo coisas interessantes”. “Tirando EUA e China, o Brasil é hoje a maior fronteira de investimentos do mundo.”

Guedes disse ainda que, apesar do prazo bastante limitado, o governo ainda está lutando para repetir neste ano o leilão dos dois blocos da cessão onerosa – Sépia e Atapu – que não receberam propostas em novembro. Ele argumentou que petroleiras que desejavam participar trocaram o Brasil pela Guiana. Entre os motivos, porque lá predomina o modelo de concessão, mais atrativo. Entre os temas mais comentados pelos investidores nas reuniões, segundo Guedes, estiveram a reforma tributária e o “choque de energia barata” anunciado em 2019.

Pela manhã, em reunião do Fórum Econômico Mundial pautada pela ameaça das mudanças climáticas e chamada informalmente de “Davos Verde”, Guedes, disse aos participantes que “a pior inimiga do meio ambiente é a pobreza”. Segundo ele, se não há oportunidades de geração de renda, as pessoas destroem o meio ambiente porque “precisam comer”.

Em uma sessão cujo tema eram tendências e desafios da manufatura avançada, Guedes mencionou o aviador Alberto Santos Dumont – cujo voo inaugural do 14 Bis ocorreu em 1906 – como símbolo de que o Brasil também pode sem bom em inovação. “Os brasileiros inventaram o avião. Nós temos Santos Dumont”, disse. A discussão no painel em que estava o ministro girou em torno das transformações tecnológicas e seus impactos para a indústria e para o mundo do trabalho. Para o ministro, o Brasil “está um pouco atrás, para não dizer muito atrás, nessa discussão”. No entanto, segundo ele, o processo de inovação é hoje mais descentralizado e o país tem uma “grande chance” com a quarta revolução industrial.