Por Fernando Rocha – Valor Econômico

O PIB do segundo trimestre confirma o que já se esperava: a economia vem perdendo dinamismo e a recuperação que se projetava para este ano não deve ocorrer. O produto cresceu apenas 0,2% no trimestre, com ajuste sazonal. Na variação em relação ao mesmo período do ano anterior, cresceu 1% e, no acumulado dos últimos quatro trimestres, houve crescimento de 1,4%. É provável que esse crescimento acumulado tenha feito o pico e comece a desacelerar daqui para frente, até o fim do ano. Com a incerteza elevada, fruto da indefinição eleitoral e um cenário externo adverso para países emergentes, não se deve esperar uma recuperação tão cedo.

Para entender o que se passou, vale a pena fazer uma breve retrospectiva. Houve forte recessão em 2015 e 2016, motivada pelas más políticas econômicas adotadas durante o governo Dilma. Com o impedimento da presidente, em maio de 2016, deu-se início a um período de recuperação da confiança. O governo Temer, no início, conseguiu aprovar algumas medidas importantes no Congresso e os índices de expectativas dos agentes econômicos deslocaram-se fortemente para o terreno positivo.

Além disso, houve algumas transferências de renda importantes para as famílias, com destaque para os saques do FGTS e do PIS/Pasep. Com isso, o PIB registrou fortes altas nos primeiros três trimestres de 2017, levando os economistas a projetar forte desempenho em 2018.

Infelizmente esse bom momento da economia foi abortado pelos fatos. Em maio de 2017 foi divulgada a gravação de uma conversa imprópria do presidente Temer com um empresário, no Palácio do Jaburu. Seguiu-se uma denúncia de corrupção por parte da Procuradoria-Geral da República. A denúncia contra o presidente foi rejeitada pela Câmara dos Deputados, mas foi reapresentada depois e novamente rejeitada.

O desenrolar desse fatos teve o efeito de erodir de forma irremediável o capital político do governo. A confiança dos agentes foi abalada. Com isso, e passados os efeitos das transferências de renda, o crescimento do PIB voltou a estagnar. Nos últimos três trimestres, o crescimento médio foi de apenas 0,1%, com ajuste sazonal. Ou seja, o PIB está praticamente parado há três trimestres – e é muito provável que isso continue ocorrendo no resto do ano. Com isso, o crescimento esperado para 2018 deve se deslocar para o intervalo de zero a 1%, contrariando um pouco mais as projeções, que ainda se encontram no patamar de 1,5% (Boletim Focus).

Para o futuro um pouco mais distante, digo 2019 em diante, é praticamente impossível fazer uma projeção com confiança nesse momento. Vai depender muito do resultado da eleição. Se for possível ativar a confiança dos agentes novamente, a economia pode crescer facilmente.

Os fatores de produção, capital e trabalho, estão ociosos. Há um alto índice de desemprego na economia e uma grande parte da capacidade instalada da indústria não está sendo utilizada.

Dessa forma, se houver uma crença de que o futuro será melhor, os consumidores voltarão a comprar, e os empresários voltarão a produzir, sem necessidade de grandes aportes, fazendo girar a roda da economia. Por outro lado, o contrário também é verdadeiro.

Se o resultado das eleições for visto pelos agentes econômicos como negativo, ou seja, se não houver restabelecimento da confiança, o desempenho do PIB pode despencar para o terreno negativo, trazendo de volta a recessão, o que seria trágico para o Brasil neste momento.

Portanto, o que se pode dizer no momento é que estamos em compasso de espera, aguardando o resultado das eleições mais importantes do período pós-redemocratização.

Fernando Rocha é economista-chefe e sócio da JGP Gestão de Recursos