Por Soraia Duarte – Valor Econômico

19/07/2018 – 05:00

No último dia 12, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) anunciou a reabertura dos eurobonds da subsidiária Cemig Geração e Transmissão. A nova oferta, de US$ 500 milhões, complementa a emissão feita em dezembro de 2017, de US$ 1 bilhão. Ambas as colocações, segundo Antonio Carlos Braga, superintendente de relações com investidores da empresa, buscaram melhorar o perfil de endividamento da companhia. Metade dos cerca de R$ 4 bilhões em dívidas da Cemig, diz Braga, tem vencimento previsto para os próximos 18 meses. “Não fizemos captações para investir, mas para alongar dívidas.” A Cemig, diz ele, é forte geradora de caixa, “mas a concentração em dívidas de curto prazo faz com que esses recursos não sejam suficientes para saldá-las”.

Assim como a elétrica, as empresas que optaram por captar recursos no exterior em 2017 e nos primeiros meses de 2018 miraram a gestão de passivos, de acordo com Fernanda Arraes, gerente executiva de mercado de capitais e infraestrutura do Banco do Brasil. “O objetivo tem sido alongamento do perfil de dívida ou redução do nível de endividamento”, explica.

É o caso da Aegea, do setor de saneamento, quando fez uma emissão externa de US$ 400 milhões em outubro. “Quase metade foi para reestruturação de dívidas”, comenta Hamilton Amadeo, diretor-presidente da Aegea. A diferença entre a Aegea e as outras empresas é que os recursos também foram usados para outras finalidades, como a compra da Companhia de Saneamento do Norte (CSN) em fevereiro, que controla a Manaus Ambiental, concessionária de serviços de água e esgoto que atende o município de mesmo nome, e para reforçar o caixa da Aegea. “Optamos por manter a empresa líquida neste momento de incertezas, criando folga para atravessá-lo.”

Eventuais aberturas de janelas para emissões de dívida no exterior, nos próximos meses, não devem alterar os objetivos das captações, de acordo com Sandy Severino, chefe de captações externas de renda fixa do BTG Pactual. “Todas as companhias que nos consultam falam que o objetivo é refinanciar dívidas”, destaca. “O crescimento da economia do Brasil não está acontecendo”, explica, o que dificulta novos investimentos por parte das empresas, pelo menos no curto prazo.

Caso haja novas ofertas, diz Severino, é possível ver mudanças no perfil dos emissores. No ano passado, comenta, muitas empresas que foram a mercado, como a Aegea, faturam exclusivamente em reais. Casos como esses terão mais dificuldade de captar fora do Brasil. “Os investidores estão olhando mais para exportadores, que têm acesso a moeda forte em seus faturamentos”, destaca.

Ricardo Leoni, diretor de mercados de capitais de dívida do J.P. Morgan, avalia que o acesso ficará mais restrito a empresas que são emissoras frequentes e que contam com ratings melhores. No curto prazo, diz, acessar o mercado será inviável para empresas sem histórico de emissões. “A tendência é que empresas que fazem emissões frequentes, ou que emitiram recentemente, sejam as primeiras (a captar recursos via bonds, quando o mercado reabrir)”, diz.

A tendência, avalia Severino, do BTG, é que as ofertas aconteçam na faixa de US$ 300 milhões a US$ 1 bilhão, com prazos de vencimento mais curtos, entre cinco e dez anos. “Com o mercado difícil, como agora, há mais interesse em prazos mais curtos”, diz. “Se o mercado virar, é possível que isso mude.”