Por Ana Conceição –  Valor Econômico

A queda do PIB da construção no segundo trimestre, maior que a registrada nos primeiros três meses, é uma das más notícias das Contas Nacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ainda sem sinal evidente de recuperação da crise iniciada em 2014, o setor pode amargar o quinto ano consecutivo de queda na atividade. Em 2014, houve retração de 2,1%; em 2015, recuo de 9%; em 2016, perda de 5,6% e, em 2017, baixa de 5%.

Em 2018, a perda deve ser mais leve, mas terá suas repercussões no emprego, dado que é um dos setores que mais ocupam mão de obra, e no investimento, uma vez que representa 60% da formação bruta de capital fixo do país.

Na série com ajuste sazonal, a construção caiu pelo segundo trimestre consecutivo: 0,4% no primeiro e 0,8% no segundo, após passar por um período de estabilidade no segundo semestre do ano passado. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o setor está no vermelho há 17 trimestres. Segundo o IBGE, a construção está 25% abaixo do pico, registrado no primeiro trimestre de 2014.

Dito isso, o cenário já foi pior. Se no momento mais baixo o PIB da construção caiu 11,4% – no segundo trimestre de 2015 ante o mesmo período em 2014 -, no período de abril a junho deste ano o recuo foi de 1,1%, a menor queda desses 17 períodos, segundo o IBGE. No acumulado de quatro trimestres, o setor recuou 2,4%, desacelerando de uma diminuição de 3,9% até março.

“A recuperação está sendo muito mais lenta do que era esperado”, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Se no início do ano, diz, esperava-se um pequeno aumento no PIB do setor, em torno de 0,5%, dado revisado depois para alta de 0,1%, agora, a possibilidade é de um número ainda negativo, embora longe das perdas dos anos anteriores.

“O cenário ainda não é positivo, mas mudou a dinâmica que predominava desde o fim de 2014, de quedas muito acentuadas e demissões em massa.” Mas a retomada muito fraca, diz, se reflete no emprego do setor que, dessazonalizado, ainda está no vermelho. E este é um dos componentes levados em consideração no cálculo do PIB da construção.

Citando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, Claudia Dionísio, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, aponta no segundo trimestre uma redução de 2,5% no emprego na construção ante igual período no ano passado.

Além da dificuldade de recuperação do setor – que sofre com a falta de obras públicas e com uma retomada incipiente do mercado imobiliário -, a construção foi afetada pela greve dos caminhoneiros. A produção de insumos típicos, outra das variáveis que compõem o PIB setorial, caiu 8,8% em maio e não se recuperou totalmente em junho, quando cresceu 4%, afirma Ana Castelo. E, em um segmento em que os projetos são de longo prazo, a paralisação, mais as incertezas eleitorais, 03/09/2018 PIB da construção pode recuar pelo 5º ano consecutivo afetou as expectativas, o que deve ainda ter repercussão negativa sobre a atividade do setor. Pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias dos Material de Construção (Abramat), divulgada em 30 de agosto, apontou queda na pretensão de investimentos nos próximos 12 meses. Apenas 46% dos membros da entidade pretendem fazer algum investimento, a menor parcela desde março de 2017.

Os números negativos do setor ainda apontam para um efeito colateral adverso, que é o seu impacto sobre a formação bruta de capital fixo, que no segundo trimestre caiu 1,8% em relação ao primeiro. A construção está segurando muito o investimento.

“Alguns números mensais, como os de São Paulo, mostram um início de retomada, mas nacionalmente ainda não temos dados muito claros [que indiquem uma recuperação]”, afirma José Ronaldo de Souza Jr., diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para quem houve um esgotamento do investimento público e também do privado, que cresceu demais e passou por um período de ajustes.

Para Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do Ibre-FGV e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), é preciso avançar na agenda do setor com a retomada de obras públicas, aumento das concessões de infraestrutura e aperfeiçoamento da regulação. “É necessário reduzir a insegurança jurídica causada pelo distrato e reorganizar a legislação sobre acordos de leniência”, acrescenta.

Assim como acontece no resto da economia, o resultado das eleições pode trazer algum ânimo ao setor, caso o presidente escolhido se comprometa com reformas, afirma Ana Castelo. “Nesse caso, a construção pode conseguir contratar algum crescimento para 2019”. (Colaborou Estevão Taiar)