Rosana Hessel – Correio Braziliense

02/12/2017 08:00

Expansão no terceiro trimestre ficou abaixo do previsto pelos analistas, mas mostrou recuperação disseminada por vários setores. A melhor surpresa foi o avanço de 1,6% nos desembolsos das empresas para aumentar a capacidade de produção

Confirmando que a recessão ficou para trás, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta pelo terceiro trimestre consecutivo. De acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu 0,1% entre julho e setembro em relação aos três meses imediatamente anteriores. O resultado ficou abaixo das estimativas do mercado, que esperava alta entre 0,3% e 0,4%, mas, de acordo com especialistas, os números são muito positivos quando analisados em conjunto. A recuperação alcançou diversos componentes do PIB, como a indústria, o setor de serviços e o consumo das famílias. Mas a melhor surpresa foram os investimentos, que voltaram a registrar alta depois de 15 trimestres de queda, avançando 1,6%, bem acima das previsões do mercado, de 0,6% a 0,7%.

Além disso, indicadores antecedentes do quarto trimestre dão sinais de que a recuperação deve continuar. A indústria automotiva, por exemplo, acumulou alta de 9,8% na produção até novembro, impulsionada pelas exportações, que têm levado a balança comercial a bater recordes mensais consecutivos.

Comemoração

O presidente Michel Temer divulgou um vídeo nas redes sociais, ontem à noite, comemorando o resultado. “Os números mostram que recuperamos os investimentos. É o primeiro resultado positivo depois de mais de três anos. E por que isso é importante? Porque quando os empresários investem, a economia aquece e surgem os empregos”, afirmou. “Vamos fechar 2017 no positivo, deixando para trás a recessão. É uma grande vitória.”

Em sua página do Twitter, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimizou o fato de o avanço do PIB ter ficado abaixo das previsões do mercado, observando que, se não fosse a queda de 3% na agropecuária, a economia teria crescido 1,1% no terceiro trimestre. Meirelles destacou o avanço acumulado no ano, de 0,6%. “Número que já supera a previsão dos economistas para 2017. Isso mostra que o Brasil segue uma trajetória de crescimento”, escreveu.

A agricultura, principal motor do crescimento do PIB no início do ano, registrou queda de 3% no terceiro trimestre, o que é considerado normal, visto que a colheita dos principais produtos agrícolas se encerrou. No entanto, a indústria avançou 0,8% e os serviços, 0,6%. Também mostraram crescimento os principais indicadores de demanda. O consumo das famílias manteve o ritmo de expansão do trimestre anterior, de 1,2%.

Logo após a divulgação dos dados do IBGE, economistas começaram a revisar para cima as previsões de crescimento econômico em 2017. A mediana das previsões do mercado para 2017, atualmente em 0,73%, deve subir para 1%. As revisões de 2018 também começaram a acontecer, mas com ressalvas, devido às incertezas em torno das eleições presidenciais e da expectativa de aumento das pressões inflacionárias no próximo ano. A mediana do mercado deve subir dos atuais 2,58% para até 3,1%, dado que poderá ser maior se houver uma sinalização mais clara de avanço das reformas, o que aumentaria a confiança dos investidores.

Retomada

“O crescimento no terceiro trimestre foi mais disseminado, e isso é bastante positivo, porque mostra que a atividade econômica está se recuperando gradualmente”, explicou a economista Sílvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O Ibre cravou a projeção de 0,1% de alta no trimestre, ficando entre as poucas instituições do mercado que acertaram a previsão. Sílvia adiantou que a instituição elevou de 0,9% para 1% a estimativa de expansão do PIB em 2017, e de 2,5% para 2,8% a de 2018. A expectativa da economista para o quarto trimestre é de mais uma  alta de 0,1%.

De acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, apesar de os dados do terceiro trimestre parecerem ruins (ele previa alta de 0,4%), “a continuidade da recuperação ficou clara”. Vale manteve a projeção de alta de 1% neste ano, mas elevou “levemente” de 3% para 3,1% a previsão de expansão em 2018. Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, também não demonstrou frustração com o resultado, apesar de ter ficado abaixo da taxa de 0,4% que ela previa. “O PIB do segundo semestre começa a crescer sem a ajuda do setor agrícola e de estímulos do governo, como os saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que foram responsáveis pela expansão dos primeiros seis meses do ano”, explicou.

Alessandra elevou de 0,7% para 1% a previsão do PIB deste ano e manteve a estimativa para 2018 em 2,8%. Para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o resultado do PIB brasileiro foi “modesto, mas sinalizando uma expansão sólida da demanda doméstica”. “Os últimos três anos extremamente desafiadores de recessão agora são vistos pelo espelho retrovisor”, disse. Ele elevou de 0,9% para 1,1% a expectativa de crescimento deste ano.

Série revisada

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, ressaltou que a discrepância dos dados do mercado “é normal” no terceiro trimestre, porque o instituto costuma fazer uma revisão das séries estatísticas. Com isso, as quedas de 3,8% e de 3,6% do PIB, em 2015 e em 2016, passaram para 3,5%. O órgão ainda elevou de -0,4% para 0,0% a taxa de variação do primeiro trimestre de 2017 em relação ao mesmo período de 2016. Já a expansão na mesma base de comparação do segundo trimestre passou de 0,3% para 0,4%.