Por Vandson Lima e Andrea Jubé – Valor Econômico

12/12/2018 – 05:00

A 20 dias da posse, o presidente eleito Jair Bolsonaro intensificou a articulação política, a fim de tentar aprovar a reforma da Previdência ainda no primeiro semestre. Enquanto ele completou ontem reuniões com seis bancadas, o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni foi ao encontro dos tucanos no Senado. Em outra frente, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, discutiu a reforma previdenciária com os deputados do PSL, sigla de Bolsonaro.

Até o momento, das bancadas com as quais Bolsonaro se reuniu, apenas o PR, com 33 parlamentares, afirmou que vai compor a base do novo governo.

Somados ao PSL, são 85 deputados que formalmente integram a base governista. Os demais declaram “apoio independente”. “Não será nada com imposição goela abaixo”, explicou o líder do Podemos, Diego Garcia (PR).

Na mesma tarde, em reunião reservada com os deputados do PSL, Paulo Guedes argumentou que a reforma da Previdência é “ponto fundamental” da politica econômica, a ser tratado com prioridade máxima. Segundo relatos de participantes, o ministro disse que o ideal seria que, ainda neste ano, o governo de Michel Temer conseguisse aprovar ao menos uma fatia da proposta, sem especificar qual seria.

“Ele falou em algo mínimo da reforma para que o avião andasse um pouquinho mais”, relatou um dos participantes da reunião. Segundo este parlamentar, Guedes criticou os “privilégios” de algumas categorias de servidores públicos no atual regime previdenciário. O ministro teria afirmado que o Poder Judiciário é o mais privilegiado, seguido dos funcionários do Legislativo e do Executivo, nessa ordem. Por último, viriam os trabalhadores do regime geral do INSS, que seriam os mais sacrificados pelas regras em vigor. Guedes confirmou ontem a nomeação do deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN) para ser secretário da Previdência.

Em outra frente, Onyx Lorenzoni dedicou-se à interlocução com o Senado, onde nos bastidores aliados de Bolsonaro tentam impedir a eleição de Renan Calheiros (MDB-AL), mais uma vez, para a presidência da Casa em fevereiro.

Em um almoço com senadores do PSDB, Onyx sinalizou que o próximo governo quer apoiar “a mudança, seguindo o sentimento das urnas” na eleição à presidência do Senado. A fala, por si, já é um indicativo contra a possível candidatura de Renan, que tem se colocado de forma cada vez mais aberta na disputa.

O encontro ocorreu no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que avalia concorrer contra o emedebista. Por isso, o gesto foi recebido pelos tucanos como um aval, ainda que tímido.

Onyx falou à bancada que Bolsonaro quer contar com o apoio do PSDB, ainda que sem falar de aliança formal. Os integrantes da sigla afirmaram que, como partido reformista que é, darão apoio às reformas. A correlação de forças à qual o governo Bolsonaro estará submetido no Senado é diferente da Câmara. Se na Casa vizinha o partido do presidente eleito é a segunda maior bancada, no Senado a sigla fez apenas 4 senadores. Em comparação, o MDB será o maior partido, com 12 senadores, e negocia a filiação de outros três, podendo chegar a 15 das 81 cadeiras.

Hoje Bolsonaro vai receber a bancada do PSL, e parlamentares de mais três legendas dispostas a endossar sua gestão: Pros, DEM e PP. Em todos os encontros, ele tem feito apelos por apoio às reformas estruturantes, em especial às mudanças das regras previdenciárias.