Folha de São Paulo
20/01/2020

Por Alessandra Saraiva e Rodrigo Carro

Empresa de saneamento fluminense está em processo de desestatização

 O governador do Estado do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) classificou hoje como “sabotagem” a origem da crise da água pela qual passa hoje a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). A intenção seria “manchar a gestão eficiente” com objetivo de preparar a companhia para leilão. Há duas semanas, a água distribuída pela empresa, que fornece para 64 municípios do Estado, tem apresentado alterações em cor, cheiro, e gosto em alguns bairros cariocas.

Durante inauguração essa manhã do Programa Segurança Presente em Copacabana, zona sul do Rio, o governador falou sobre o assunto ao ser questionado sobre o tema pela imprensa. “Evidente que ouve, de fato, ali uma imperícia. E nós vamos apurar se essa imperícia foi dolosa ou culposa. Ou seja: se quem deveria tomar conta para evitar o que o que está acontecendo agora, no verão e nas férias, acontecesse, foi simplesmente um fato culposo. Ou seja, incompetência. Eu, particularmente, não acredito”, afirmou o político.

“Eu acredito que o que está sendo apurado é uma sabotagem por conta do leilão. Há muitos interesses envolvidos nesse leilão e eu pedi à polícia que apurasse” , completou ele.

A Cedae passa por processo de negociação para desestatização. O modelo escolhido pelo Estado do Rio prevê a atuação da estatal apenas na produção, na captação e no tratamento de água, que seria vendida a quatro novas subconcessionárias. Essas empresas ficariam focadas na distribuição de água e na coleta de esgoto em quatro blocos pré-definidos de municípios.

Na semana passada, a empresa concedeu coletiva de imprensa sobre as alterações na água, nas últimas semanas. A companhia informou que usará carvão ativado para reduzir a presença da substância geosmina na água distribuída.

A substância, produto da proliferação de algas no sistema Guandu — o maior dos três administrados pela companhia —, tem sido apontada por especialistas como a razão pela qual a água da Cedae tem apresentado cor turva e cheiro forte. Durante a coletiva, o presidente da empresa Hélio Cabral informou também que equipamentos a serem utilizados na neutralização da geosmina foram comprados em São Paulo, e serão trazidos para o Rio.

Na ocasião, Cabral informou ainda que a operação será permanente e os custos são relativamente baixos, cerca de R$ 2 milhões por mês.

Para Witzel, o equipamento comprado para mitigar o presença da geosmina na água, e que deve chegar ainda essa semana ao Rio, já deveria ter sido comprado. De acordo com informações apuradas pelo governador do Rio, outras empresas do setor já teriam esse tipo de equipamento.

“O que nos leva a crer que foi um fato imperito no mínimo. Agora eu desconfio que houve uma sabotagem exatamente para manchar a gestão eficiente que está sendo feita para Cedae preparando ela para o leilão”, afirmou ele.

De acordo com o governador, a investigação policial sobre possível sabotagem estaria sendo realizada em consonância com o conselho de administração da empresa, que também estaria apurando o tema.

“A Polícia está apurando. O conselho de administração da Cedae está apurando, vai fazer uma auditoria para que a gente possa entender, como que quem está trabalhando há anos possa ser surpreendido por um fato que é previsível”, disse.

Fontes próximas à companhia informaram que o conselho de administração da empresa vai instaurar auditoria sobre o assunto. De acordo com as mesmas fontes, a possibilidade de ter ocorrido sabotagem nos processos operacionais da empresa é uma das opções que está em investigação.