Valor Econômico
31/07/2020

Por Genilson Cezar

Objetivo é diversificar a matriz hídrica do Estado

O Ceará deu mais um passo para a construção da primeira grande usina de dessalinização de água do mar no país. As propostas dos eventuais competidores internacionais e nacionais para construção, operação e manutenção da planta na região metropolitana de Fortaleza, no modelo de parceria público-privada (PPP), segundo edital de concessão pública divulgado no início de maio, serão recebidas até o dia 1 de setembro.

O novo sistema, que será instalado na Praia do Futuro, vai gerar um mil litros cúbicos por segundo de água dessalinizada. Significa um aumento de 12% na oferta atual de água (7,9 mil litros de água por segundo), beneficiando cerca de 720 mil pessoas. A previsão é de um investimento de R$ 480 milhões, informa Neuri Freitas, diretor-presidente na Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

“O objetivo é diversificar a matriz hídrica do Estado, de forma que o abastecimento da população não dependa apenas das chuvas”, diz Freitas.

O contrato de concessão para PPP, segundo o edital da Cagece, será de 30 anos, e a empresa que vencer a licitação será responsável pela captação e execução do investimento. A proposta da Cagece prevê que os recursos sejam 70% financiados e 30% da empresa vencedora, como forma de mitigar o preço das tarifas de água aos consumidores.

“A ideia é que tenhamos um modelo de operação como o que existe no setor elétrico, com tarifas fixas e variáveis, de acordo com o consumo mensal”, diz.

Como usina de grande porte, trata-se de uma iniciativa pioneira no país. Há projetos menores em operação, como o sistema implantado em 2010 em Fernando Noronha pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), com um investimento pequeno, de R$ 2,5 milhões. A produção é de 48 mil litros de água por hora, algo como 40% da água utilizada pelos três mil moradores do arquipélago.

Em junho, o governo da Paraíba, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional, inaugurou 40 sistemas de dessalinização em 27 municípios do Agreste e Cariri paraibanos, num investimento de mais de R$ 5,6 milhões. A produção será de 340 a 1 mil litros de água portável por hora e vai atender comunidades com 30 a 250 famílias. “No caso da Paraíba, a diferença de uma usina como a do Ceará, além de tamanho e complexidade, é que a água é retirada de poços artesianos, e não do mar”, destaca Deusdete Queiroga, secretário de Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente (Seirhma).

A tecnologia que será empregada no projeto de Fortaleza é a osmose reversa, que utiliza membranas semipermeáveis, por meio de uma alta pressão para separar os sais da água do mar. O conglomerado coreano GS Inima, encarregado dos estudos de viabilidade técnica e econômica para construção da usina, já participou dos projetos de mais de 350 plantas de dessalinização em todo o mundo, segundo Eduardo Berrettini, gerente técnica da filial brasileira. “No Brasil, esse é um novo mercado que se abre para as empresas do setor privado, que têm know-how e expertise para isso”, diz ele.

Segundo Diego Taranto, diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Opersan, os projetos de dessalinização podem viabilizar o fornecimento contínuo de recursos hídricos de qualidade e financeiramente viáveis pelas concessionárias de águas públicas. A empresa detém tecnologia para isso, adianta ele. “Temos uma operação um sistema de dessalinização que capta água da Baía de Guanabara (RJ) e atende a rigorosos parâmetros para fornecer uma água tratada de excelente qualidade”, diz. A produção chega a oito milhões de litros por mês e o cliente é a Clariant, que utiliza deste recursos para produção de produtos químicos para o mercado de óleo e gás da região.

Outro competidor potencial é o grupo espanhol Acciona, um dos maiores fornecedores da tecnologia de osmose reversa, com mais de 85 plantas espalhadas ao redor do mundo. Na América do Sul, relata Virgínia Sodré, diretora de desenvolvimento de negócios, a Acciona é responsável pela dessalinizadora de Copiapó Swro, no Chile. Com capacidade de 54 mil m3/dia, a usina capta água do oceano Pacífico, para atender a uma mineradora e 340 mil habitantes da região