Por Francisco Góes – Valor Econômico

24/08/2018 – 05:00

A nova política de investimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fundos de investimento começa a apresentar os primeiros resultados. Em maio, o banco anunciou orçamento de R$ 6 bilhões para fundos, sendo R$ 5 bilhões para infraestrutura e R$ 1 bilhão para projetos corporativos.

A partir dessas diretrizes, o banco estrutura dois fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC). Um terá patrimônio de R$ 500 milhões e será formado por parte das debêntures de infraestrutura da carteira da instituição. O outro, para crédito corporativo, será de R$ 1 bilhão e terá participação de investidores institucionais e de agências multilaterais de fomento, disse Eliane Lustosa, diretora da área de mercado de capitais do BNDES.

No total, a BNDESPar, braço de participações do BNDES, tem em carteira R$ 1,5 bilhão em debêntures de infraestrutura, papéis que contam com incentivo de Imposto de Renda e que o banco subscreveu desde 2012. A ideia, segundo Eliane, é levar essas debêntures para o mercado. O primeiro dos fundos formados por debêntures de infraestrutura será o FIDC de R$ 500 milhões, cujo edital para seleção do gestor será lançado em setembro. Trata-se, segundo Eliane, de um “desinvestimento”, mas o objetivo maior do fundo é incentivar a liquidez desse instrumento no mercado secundário. Ela disse que esses papéis são ligados a projetos maduros, que “performaram”, e que o banco vê uma possibilidade de auferir boa rentabilidade.

Do patrimônio de R$ 500 milhões, as debêntures incentivadas da carteira do BNDES devem compor 85% do ativo do fundo, disse Eliane. Os 15% restantes virão de outros papéis. O fundo vai buscar atrair investimentos de pessoas físicas.

Desde que a lei 12.431, de 2011, que trata das debêntures incentivadas, foi instituída, o banco passou a apoiar, de forma paulatina, uma parcela das debêntures de infraestrutura. Dessa forma, chegou-se ao portfólio de R$ 1,5 bilhão, que Eliane reconhece não ser muito relevante. O mais relevante, para ela, foi o conhecimento que o banco adquiriu no apoio aos projetos. “A ideia agora é fazer isso com mais força.” Ela considera que o fundo de investimento é um instrumento interessante porque o banco consegue fazer um processo transparente de escolha do gestor, a partir do qual são selecionadas as empresas investidas, com o BNDES aportando uma parte dos recursos e o setor privado, a outra.

“Vamos ser mais ativos na busca de projetos que vamos ancorar. Quem quiser iniciar um projeto que vá a mercado pode nos procurar e vamos analisar o projeto e fazer um ‘bid’ escalonado, ou seja, a taxa cresce na medida em que a participação [de mercado] aumenta”, disse Eliane. Gestores que estão captando recursos para fundos de infraestrutura têm procurado o BNDES em busca de participação do banco nos investimentos.

Pela nova política aprovada, a BNDESPar poderá aplicar em fundos de infraestrutura que invistam em debêntures ou em recebíveis relacionados a projetos de logística e transporte, mobilidade urbana, energia, telecomunicações e saneamento básico. No caso dos fundos de crédito corporativo, a BNDESPar pode investir nesses veículos com o objetivo de ampliar a oferta de crédito de longo prazo para as empresas que ainda não possuem acesso ao mercado de capitais. No FIDC de R$ 1 bilhão, de crédito corporativo, o BNDES já aprovou participação de 25% no fundo. O banco poderá entrar no fundo com até R$ 250 milhões ou 20% do patrimônio líquido do fundo, o que for menor. Em setembro, será feito um anúncio conjunto sobre esse fundo que deve ter órgãos multilaterais como cotistas. Na ocasião também serão conhecido o nome do gestor.

No total, o BNDES tem hoje 37 fundos de investimento em sua carteira, sendo 46% deles de private equity, 38% de venture capital e 16% de capital semente. São R$ 3,1 bilhões em capital comprometido diversificado em 15 setores que geram alavancagem em termos de investimentos de R$ 16,2 bilhões. O banco começou a apoiar fundos de investimento em 1996.

De lá para cá, a taxa interna de retorno (TIR) média das participações já vendidas pelo banco foi superior a 18% ao ano.

Houve casos de fundos com ganhos acima de 30% ao ano, e casos em que houve perdas.