Valor Econômico
23/06/2021

Por Alex Ribeiro

BC não sinalizou explicitamente uma alta de 1 ponto percentual em agosto

O Banco Central retirou as amarras para o ritmo de alta dos juros básicos e para o tamanho do ciclo de aperto monetário, apesar de ter sinalizado que por ora considera apropriadas uma alta de 0,75 ponto percentual em agosto e a normalização total da taxa Selic neste ano.

Com a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, o mercado deve atribuir maiores chances de uma alta de 1 ponto percentual. E também reavaliar “sistematicamente” os riscos de os juros subirem acima do nível neutro.

A principal mensagem do documento é que os membros do colegiado chegaram a avaliar uma alta mais forte dos juros, provavelmente de 1 ponto percentual, na reunião do Copom da semana passada.

Um ponto importante: a mera comunicação de que, na reunião da semana passada, o Copom avaliou uma alta mais forte de juro não deveria ser lida como uma sinalização sobre os passos futuros. Em mais de uma vez o colegiado deixou claro que a transparência sobre as suas discussões não deve ser entendida como comunicação de seus planos.

O exemplo mais recente ocorreu em janeiro, quando alguns membros do colegiado defenderam uma discussão sobre a alta de juros já para a reunião seguinte. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse depois que o mercado havia entendido mal, que transparência sobre o processo de discussão das decisões não deveria ser confundida com sinalização.

Mas a pergunta que muitos se fizeram ontem foi: por que o Banco Central não fez, de uma vez, a alta de juro de 1 ponto percentual já na semana passada?

A ata cita duas razões: acumular mais dados sobre a inflação (comportamento de preços mais inerciais e expectativas) e comunicar melhor para o mercado que suas sinalizações futuras não devem se confundir com promessas e que, ao longo do caminho, pode haver ajustes em relação ao sinalizado.

No mercado, os analistas estão se apegando a essa última explicação. Ou seja, segundo esse entendimento, o BC não subiu os juros em 1 ponto porque a comunicação não havia sido compreendida completamente e, portanto, o comitê queria evitar uma surpresa no mercado.

Não há dúvida que, entre os motivos avaliados para não apertar com mais força, estava a intenção de não surpreender novamente o mercado. Mas seria incorreto concluir que o Copom está de olho apenas nisso.

Se fosse apenas para deixar o mercado ciente de suas intenções, o Copom poderia ter anunciado firmemente uma alta de 1 ponto percentual para a próxima reunião. Não foi o que fez. A sinalização é uma alta de 0,75 ponto percentual, que pode ser mais forte, condicionada à evolução do cenário econômico.

Alguns analistas acham que, já nesta reunião de junho, o Banco Central tinha motivos para subir os juros em 1 ponto percentual. De fato, poderia. Na ata, do comitê diz que o quadro mais geral da economia justifica “uma trajetória para a política monetária menos estimulativa do que a utilizada no cenário básico”.

Quando analisa o cenário básico em conjunto com o balanço de riscos, diz que “elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam projeções em torno da meta de inflação no horizonte relevante”. O comitê, nesse trecho da ata, apenas diz em que nível a inflação esperada fica – “em torno da meta” – sem elaborar se está qualitativamente satisfeito com isso.

O colegiado transparece uma certa insatisfação com a inflação esperada no parágrafo seguinte, quando diz que, “frente à revisão da trajetória de política monetária implícita nas suas projeções, o comitê avaliou uma redução mais tempestiva nos estímulos monetários”. Uma alta de juros mais célere poderia contribuir para baixar mais a inflação esperada, já que aumentaria a Selic média.

Mas é bom notar que, apesar de todas ponderações, no fim o colegiado decidiu olhar mais dados até a próxima reunião antes de decidir o que fazer. Pelo comunicado do Copom da semana passada, parecia que estava de olho sobretudo nas expectativas. Na verdade, quer ver a evolução dos preços mais inerciais.

Apesar dessas preocupações, deve-se reiterar, o BC não sinalizou explicitamente uma alta de um ponto percentual, mas 0,75 ponto, sujeita a revisão para cima.

De forma semelhante, a sinalização para o tamanho do ciclo não está escrita na pedra. O cenário principal, por ora, é uma normalização. Mas o tamanho do ciclo é algo que, pela ata, o BC está examinando ativamente: “será sistematicamente reavaliado conforme ocorrem mudanças nos determinantes”. Antes, o BC tinha uma visão mais passiva sobre o ciclo, pois dizia que seu tamanho poderia “ser alterado caso haja mudanças”.

Em suma, por enquanto o BC não sinalizou explicitamente uma alta de 1 ponto percentual em agosto nem levar a política monetária a um ponto restritivo. Mas as chances de uma coisa ou outra acontecer aumentaram significativamente.