Valor Econômico
26/12/2019

Por Roberto Kropp e Rafael Cardoso

Para começar, sabemos que o cenário externo no próximo ano será marcado pelas discussões em torno da chamada “guerra comercial” disputada entre Estados Unidos e China

Quando o fim do ano se aproxima, tentamos, de alguma forma, antecipar os principais eventos e riscos do ano seguinte e organizá-los vislumbrando identificar as principais tendências. Realizar este exercício é sempre permeado por incertezas, mas por vezes conseguimos levantar hipóteses (e riscos) que nos ajudam a navegar com maior tranquilidade. Ao realizar o exercício para 2020, é possível encontrar fenômenos para vislumbrarmos caminhos novos. Para começar, sabemos que o cenário externo no próximo ano será marcado pelas discussões em torno da chamada “guerra comercial” disputada entre Estados Unidos e China. As eleições presidenciais americanas serão fato determinante e podem fazer o mercado desacelerar trimestres antes das eleições.

Alguns eventos provavelmente irão ocorrer nos primeiros meses do ano. Notadamente haverá impulso à atividade econômica devido aos saques do FGTS que se iniciou este ano. A atividade econômica já vem acelerando nos últimos meses e o efeito do FGTS será impulso importante no início de 2020. Também vale destacar a alta dos preços de carnes no mercado doméstico como reação à alta de preços internacionais devido ao choque de oferta de carne suína chinesa. A inflação, seguirá pressionada nos últimos meses de 2019 e do começo de 2020.

Pensando mais adiante, no final do ano haverá as eleições municipais. Sabemos que eventos políticos desta importância são potencialmente contagiosos para as discussões políticas de forma geral. O Congresso tende a ficar vazio, dificultando a tramitação de projetos de alta complexidade.

Neste sentido, o “Plano Mais Brasil” deverá ter bastante dificuldade em avançar rapidamente. O plano é composto por 3 PECs (Proposta de Emenda Constitucional), o que exige trâmite trabalhoso no Congresso e quórum elevado para aprovação. Acreditamos que a PEC Emergencial deverá ser aprovada no primeiro trimestre do ano, mas somos céticos quanto as demais medidas.

Com tais riscos no radar muitas dúvidas aparecem. Os principais bancos centrais globais terão espaço para agir em caso de nova desaceleração da atividade econômica em eventual acirramento da disputa EUA x China? Haverá estímulos fiscais em países como a Alemanha, onde tal tema é de difícil aceitação? No Brasil, como o Banco Central, que já comunicou cautela, reagirá à volta da atividade econômica simultaneamente ao choque de preços? Tendo em vista as eleições municipais, as medidas econômicas avançarão concretamente no Congresso?

Essas são perguntas cruciais para pensar no ano de 2020. Por mais que possamos apostar no que está por vir, a melhor maneira de navegar em cenário permeado em incerteza é montar um portfólio que além de diversificado seja razoavelmente líquido, permitindo a saída rápida caso necessário.

Podemos partir do princípio que os juros no Brasil permanecerão em patamares baixos. E como não vislumbramos nenhuma crise econômica mais séria, podemos investir uma parte dos recursos em operações com taxas prefixadas emitidas por empresas e bancos de primeira linha.

Uma alternativa é investir uma parte em títulos atrelados à inflação com prazo superior a três anos. Com a tendência do crescimento mundial se situar em patamar baixo, o juro deve ser estimulativo e, em muitos países, negativo. No caso do Brasil não devemos chegar nesse ponto, mas é possível ter um juro real bem baixo por um bom tempo. O mercado de debêntures vem passando por uma reprecificação e está oferecendo taxas de juros reais mais altas e que devem levar a bons retornos para quem puder investir por um prazo maior.

Outro investimento que vale destacar é bolsa de valores. O Brasil se encontra em um momento diferente em relação à maioria das economias. Apesar das incertezas, a expectativa de crescimento para o próximo ano é maior, que deve impulsionar o resultado das empresas que já fizeram a lição de casa reduzindo custos e agora devem aumentar suas receitas. O ideal é investir em ações voltadas para o mercado doméstico, dos setores de varejo, bancos e imobiliário. Um fundo de ações com perfil ativo é recomendável, já que um bom gestor consegue achar os melhores pontos de entrada e saída de determinada ação.

Muitas vezes não conseguimos investir diretamente, por falta de tempo, desconhecimento e até o volume de recursos necessários para isso. Por isso, algumas vezes é interessante terceirizar, ou seja, escolher um fundo multimercado bem gerido com uma política de investimentos clara e diversificada. Esse cenário incerto, provavelmente com muitas oscilações durante o ano, deve oferecer muitas oportunidades de ganho para esse tipo de investimento.

Finalmente, importante deixar uma parcela para investir diretamente em fundos estruturados negociados em bolsa, que podem ser compostos por ativos imobiliários ou contratos de prestadoras de serviços com fluxo previsível.

Roberto Kropp é diretor da Daycoval Asset Management Rafael Cardoso é economista-chefe da Daycoval Asset Management