Valor Econômico
17/01/2020

Por Marcelo Osakabe, Victor Rezende, Lucas Hirata e Ana Carolina Neira

Prévia do PIB melhor que a esperada não elimina cautela entre investidores

A surpresa positiva com um dado de atividade de novembro não foi suficiente para reverter a cautela que se instaurou no mercado nos últimos dias, quando os investidores se depararam com dados mais fracos que o esperado e passaram a questionar o ritmo da retomada econômica. O Ibovespa teve um dia de instabilidade ontem, mas conseguiu até subir um pouco no fechamento. O movimento mais notório, porém, ficou com o dólar, que buscou a marca de R$ 4,20, impulsionado também pelo quadro externo.

No encerramento do pregão, a moeda americana era negociada a R$ 4,1927, alta de 0,20%, perto da máxima intradiária de R$ 4,2007. Este é o maior patamar de fechamento desde 4 de dezembro, quando a cotação encerrou em R$ 4,2017. É também o nono dia de alta da divisa americana nas 11 sessões de janeiro.

Ao se aproximar da barreira psicológica de R$ 4,20, o avanço do dólar também resultou em um firme avanço dos juros futuros, principalmente em vértices que vinham caindo nos últimos dias com a possibilidade de novos cortes da Selic. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022, por exemplo, saiu de 5,02% no dia anterior para bater 5,12% na máxima do pregão de quinta. Depois, fechou com alguma acomodação em 5,08%.

 Já o Ibovespa fechou em leve alta de 0,25%, aos 116.704 pontos e um giro financeiro de R$ 14,7 bilhões, pouco acima dos R$ 12,3 bilhões da média diária de 2019. O resultado da prévia do PIB garantiu fôlego especialmente aos ativos do setor de varejo e consumo, que devolveram os ganhos no decorrer da sessão.

Pela manhã, o clima era mais positivo no mercado. O resultado do IBC-Br de novembro, conhecido como a prévia do PIB, surpreendeu os analistas ao avançar 0,18%. Num primeiro momento, houve queda do dólar e alta mais firme do Ibovespa. A moeda americana chegou a encostar nos R$ 4,15, beneficiado pela leitura de que o dado equilibrava a frustração com outros indicadores para o mesmo mês divulgados nos últimos dias.

Economista sênior da Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia acredita que o índice “apoia a nossa visão de que a economia tem sido bastante resistente a choques externos e domésticos”, mas ressalta que a recuperação da economia ainda é “modesta e frágil”. Para ele, não se pode dizer que há uma retomada “sustentada e acelerada” da atividade econômica.

O movimento mais positivo do câmbio, no entanto, perdeu fôlego após a publicação das vendas no varejo de novembro e o índice de difusão de atividade do Federal Reserve de Filadélfia. Enquanto o primeiro avançou 0,3% na comparação mensal, em linha coma expectativa, o segundo saltou de 2,4 para 17,0 em dezembro. Com isso, ficou a percepção que a economia americana ainda cresce em ritmo robusto, o que favorece a alta do dólar no mundo.

“Temos um dia de dólar mais forte no exterior e estamos acoplados”, diz José Faria Junior, diretor da WIA Investimentos. Embora historicamente tenha respeitado bem o patamar dos R$ 4,20, o dólar poderia voltar a testar os R$ 4,25 ou mesmo os R$ 4,35 nas próximas semanas, antes de uma acomodação, acrescenta o profissional.

Apesar da forte alta do dólar neste início de ano – 4,56% no acumulado até ontem-, Junior pondera que os tradicionais fluxos de início de ano ainda podem não ter dado as caras. “A questão é que o real está num momento frágil mesmo com certo bom humor lá fora. Se, por exemplo, houver uma correção nas bolsas americanas, que não param de bater máximas, a gente pode tomar um susto aqui”, alerta.