Por Sérgio Tauhata – Valor Econômico
24/10/2018 – 05:00
Dizer que a sustentabilidade cada vez mais faz parte da agenda das empresas no Brasil pode soar como marketing corporativo. Mas pelo menos entre as companhias listadas na bolsa não só existe uma forma de tomar o pulso da incorporação de critérios ambientais, sociais e de governança nas decisões de negócios, como os resultados da pesquisa realizada anualmente pela B3 reforçam a visão de avanço dessas estratégias.
O “Relate ou Explique para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)” deste ano, realizado pela B3 em parceria com o Global Reporting Initiative (GRI), mostra expressiva evolução do número de empresas de capital aberto que publica relatórios integrados ou de sustentabilidade relacionados aos ODS.
A versão de 2018 do documento trouxe novidades. Uma das mais importantes foi a implementação da pesquisa ativa, ou seja, uma triagem feita pela equipe da bolsa a partir das informações públicas de todas as empresas que não se manifestaram.
Como resultado, o número de companhias que elaboram relatório de sustentabilidade ou integrado alinhado aos ODS cresceu de 60, em 2017, para 114 neste ano, o que corresponde a 26% das empresas listadas na B3. Do total, 62 responderam espontaneamente e outras 52 foram identificadas na pesquisa ativa. Outros 55 participantes, ou 13% das listadas, não publicam, mas justificaram a decisão.
O “Relate ou Explique” existe desde 2012 e busca incentivar as empresas de capital aberto a melhorar a transparência ao divulgar informações relacionadas às dimensões social, ambiental e de governança corporativa. A pesquisa, porém, mudou em 2016, quando passou a questionar as corporações sobre a aderência aos princípios do ODS.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram criados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 como uma evolução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, instituídos em 2000. Os ODS compõem uma agenda para 2030, que amplia as metas e inclui temas como erradicação da pobreza, igualdade de gêneros, redução das desigualdades, fome zero, agricultura sustentável, consumo e produção responsáveis, energia limpa e educação de qualidade, além de manter discussões como ações contra a mudança climática e acesso à saneamento e água potável.
A edição 2018 do “Relate ou Explique ODS” também incorpora entre as novidades uma visão do tema a partir dos Índice Bovespa e Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Os números mostram que dois terços, ou 66% das 62 integrantes da carteira do Ibovespa, que reúne as empresas mais líquidas da bolsa, adotam a divulgação de informações de sustentabilidade. No caso do ISE, a adesão atinge 100% dos 30 componentes do indicador.
“Fica evidente o compromisso das empresas mais líquidas do Brasil com a sustentabilidade e acredito que esse comportamento pode inspirar o restante da bolsa a acelerar a adoção dessa agenda”, afirma Sônia Favaretto, diretora de imprensa, sustentabilidade e investimento social da B3. A executiva ressalta ainda outro dado do levantamento: “Caiu pela metade a quantidade de quem dizia que esse tema não estava na prioridade, isso mostra que muito mais empresas estão vendo o lado estratégico da sustentabilidade”.
De fato, o número de companhias que justificou a falta de adoção de relatórios integrados ou de sustentabilidade por não ser prioridade recuou de 17 no ano passado para 8 em 2018. Além desse grupo, as empresas que alegaram problema de custo para não ter a iniciativa caíram de 10 em 2017 para três na edição atual da pesquisa.
Entre as 55 companhias que não publicam, mas explicaram, 45% afirmaram estar avaliando a possibilidade ou em processo de elaboração. “O resultado veio em linha com o que esperávamos e reforça a percepção que a agenda está em desenvolvimento”, diz.
Houve ainda uma queda da quantidade de respondentes que explicaram, de 87 em 2017 para 55 neste ano. “Essa diminuição ocorreu por conta do aumento das empresas que passaram a publicar”, explica Sônia.
Além dos números, a B3 tem mais a comemorar na edição deste ano do “Relate ou Explique”. A iniciativa foi escolhida como um dos 10 melhores do mundo pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) na área de sustentabilidade. A distinção será entregue nesta quarta-feira, em Genebra, na Suíça.
