Estadão
17/01/2019

Com ajuda de inteligência artificial, tecnologia da Stattus4 é capaz de analisar ruídos de hidrômetros para encontrar irregularidades, como um ‘Shazam do vazamento de água’

Ao longo das últimas duas décadas, o aplicativo Shazam se tornou uma arma na mão dos fãs de música: com ajuda de inteligência artificial, o serviço era capaz de identificar qual canção estava tocando em som ambiente, informando ao usuário seu nome e intérprete. Agora, uma startup brasileira, a Stattus4, utiliza uma tecnologia parecida para um problema bem mais terreno: detectar vazamentos de água em tubulações.

Chamada de 4Fluid, a tecnologia da startup precisa do auxílio de um dispositivo específico para descobrir se há algum problema nos encanamentos. É um aparelho pequeno, composto por uma central de processamento e uma longa haste, que pode ser inserida no hidrômetro. Com capacidade semelhante à de um ouvido humano, o dispositivo pode gravações de cerca de 10 segundos de áudio das tubulações.

Depois, os ruídos são enviados para a plataforma de computação na nuvem Azure, da Microsoft, e analisados junto à base de dados da empresa, que contém mais de 700 mil gravações de ruídos de tubulações em bom estado de funcionamento. Com isso, o algoritmo da empresa faz uma “varredura acústica” em busca de sons que diferem do padrão das amostras e processam se há vazamentos e onde são os pontos de incidência.

“As empresas que distribuem água têm dificuldade de contratar especialistas em acústica para entender esse ruído. Com a nossa plataforma, é possível fazer a varredura de forma automática”, explica Marília Lara, presidente executiva da Stattus4. “A ‘peneirada’ que nosso sistema dá reduz as visitas a campo dos especialistas para cerca de 2% dos casos.” A empresa estima que a tecnologia pode trazer economia de até 70% para seus clientes.

Ao Estado, Marília afirma que a tecnologia é capaz de indicar com 99% de acerto que um ponto não tem vazamento. Além disso, o sistema tem 65% de precisão nas situações indicadas como problemáticas.

Histórico

Fundada em 2017, a empresa de Sorocaba (SP) já opera em mais de 28 cidades do país, atendendo áreas onde vivem aproximadamente 7 milhões de habitantes. A tecnologia atende o estado de São Paulo, Rio de Janeiro e algumas cidades no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso. Desde 2018, a 4Fluid já ajudou seus clientes a economizarem pelo menos 15 bilhões de litros de água – o equivalente a cerca de seis mil piscinas olímpicas.

Para faturar, a empresa vende aos clientes uma licença de acesso ao sistema, cobrada pela utilização de cada coletor. Dona de uma equipe de 17 pessoas, a startup trabalha ainda no desenvolvimento de um segundo sensor, que poderá ser fixado em cavaletes d’água e hidrômetros. O aparelho poderá medir pressão, consumo de água e pode fazer a coleta de dados em tempo real, enviando dados para a nuvem via radiofrequência ou NB-IoT, um sistema de transmissão de dados pela internet semelhante ao 4G.

Neste momento, a Stattus4 busca sua primeira rodada de aportes com fundos de investimento. Antes disso, contou com investidores-anjo e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Parque Tecnológico de Sorocaba e da Baita, aceleradora de startups sediada em Campinas. A startup busca ainda profissionais para áreas de desenvolvimento de software, inteligência artificial e engenharia de saneamento.

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas