Simpósio de recursos hídricos mobiliza o país em crise de abastecimento de água

Enquanto os estados do Sul têm sofrido com os desastres naturais, a estiagem castiga as regiões Nordeste, Centro-Oeste e algumas cidades mineiras. No mês de outubro, o Distrito Federal completou dez meses consecutivos de racionamento de água e nos últimos meses, os reservatórios locais atingiram os piores índices da história. Com um olhar atento para essas intempéries climáticas e questões correlacionadas à água, será realizado o XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, de 26 de novembro a 1º de dezembro, em Florianópolis (SC).

Sob o tema Ciência e tecnologia da água: inovação e oportunidades para o desenvolvimento sustentável, o evento é organizado pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) e discutirá os efeitos da crise hídrica e os aprendizados obtidos com a ocorrência desses episódios, apresentando as experiências bem-sucedidas e outras que não lograram êxito. O objetivo é contribuir com os gestores públicos no encaminhamento de soluções técnicas.

“O Brasil tem muitas experiências bem-sucedidas tanto na estruturação de infraestrutura hídrica quanto nos arranjos do sistema de gestão de recursos hídricos, tais como no Estado do Ceará, que podem servir de referência para a tomada de decisão frente a condições de escassez”, exemplifica Vladimir Caramori, presidente da ABRH e professor dos cursos de pós-graduação da Universidade Federal de Alagoas.

De acordo com Vladimir, tanto os profissionais da área de recursos hídricos, como os estudantes e pesquisadores que vão participar do simpósio aguardam esses temas com boa expectativa. “A sociedade está cobrando soluções eficientes que garantam segurança hídrica para a população, tanto em momentos de escassez, como as estiagens severas, quanto de excessos, como as inundações”, reforça Vladimir.

Desafios

O Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos acontece a cada dois anos e é o evento mais aguardado nessa área, por reunir todos os envolvidos com o tema: autoridades, pesquisadores, professores, estudantes, técnicos, profissionais liberais, empresários, fabricantes, comerciantes e usuários de equipamentos. O objetivo é estreitar o diálogo entre a ciência, tecnologia, os setores produtivos e a comunidade.

“Com os desafios impostos pelo cenário atual, precisamos discutir o papel da ciência hidrológica na construção do conhecimento, e como esse saber pode ser utilizado para administrar os diferentes usos da água e encontrar soluções inovadoras, economicamente atrativas e sustentáveis”, provoca Nadia Bernardi Bonumá, presidente da comissão organizadora do simpósio e professora da Universidade Federal de Santa Catarina.

“O intercâmbio entre os diversos participantes se dará por meio da realização de conferências, mesas-redondas, apresentações de trabalhos em sessões orais e na forma de pôster, exposições técnico-científicas e institucionais, seminários, minicursos, visitas técnicas e atividades culturais”, elenca. Haverá também sessões orais temáticas, com o intuito de incentivar uma participação inclusiva e abrangente durante o simpósio, além de melhorar a composição das sessões técnicas, proporcionando reflexões e discussões mais produtivas. Confira aqui o temário.

O estado de Santa Catarina se notabiliza pelas belezas naturais e também pelo histórico de eventos climáticos extremos, como a estiagem na região oeste catarinense e as inundações e escorregamentos no litoral. A hidrodiversidade desse estado traz grandes desafios ao gerenciamento de recursos hídricos. “Esse cenário serve de inspiração para discussões científicas disseminadas aos atores sociais, capacitando-os na busca de alternativas sustentáveis que possam auxiliar no desenvolvimento de políticas socioambientais e na gestão de recursos hídricos”, conjectura Nadia.

As lições de Mariana

Com a ruptura da barragem de rejeitos ocorrida no município de Mariana (MG), em 2015, houve um desastre ambiental sem precedentes no país, além de impactos social e econômico. A água na bacia do Rio Doce foi severamente afetada, tanto no uso do sistema de abastecimento público de água potável, como os ecossistemas aquáticos, aquicultura, recreação, entre outros. Um desastre dessa proporção deixa aprendizados que evitam reincidências.

No simpósio, haverá uma mesa redonda sob o tema Aprendendo com Mariana, onde participarão as pessoas que trabalharam para contornar o problema. Será feita uma avaliação crítica pós-acidente, mostrando o que precisa ser corrigido e qual o aprendizado restou dessa difícil experiência para se evitar tragédias futuras.

O evento terá 13 mesas redondas, sobre temas como Segurança de Barragens, Enfoque hidro agrícola na produção alimentar do Brasil, Informações sobre mudanças climáticas no gerenciamento de recursos hídricos, entre outros. Clique aqui e saiba mais.

Fórum mundial da Água

A Agência Nacional de Águas (ANA) trabalha fortemente no Projeto Legado, uma gama de oportunidades que o Brasil terá de aprendizado com o Fórum Mundial da Água. “Ao longo da sua história, a ANA identificou as deficiências peculiares aos recursos hídricos no Brasil, tanto relacionados às questões legais, como de estrutura de gestão e fiscalização. Diante disso, a agência está trabalhando em um conjunto de propostas, normas e estruturação do sistema de gestão de água, que será consolidado no SBRH de Florianópolis, e apresentado à sociedade como um legado desse processo como um todo, no Fórum Mundial da Água, em março de 2018, em Brasília.

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