Valor Econômico
01/09/2020

Por Taís Hirata

Gestora acaba de concluir a captação de R$ 10 bilhões para seu quarto fundo de investimentos dedicado apenas a infraestrutura

O Pátria, que acaba de finalizar a captação de R$ 10 bilhões para um fundo voltado exclusivamente a infraestrutura, planeja seus primeiros passos no mercado de saneamento básico no Brasil. A gestora, porém, ainda está em uma fase inicial de análise e não prevê uma “avalanche” de investimentos no setor, a partir da aprovação da nova legislação, avalia Otavio Castello Branco, sócio de infraestrutura do grupo.

“Muito provavelmente, [no novo fundo] haverá investimento em saneamento no Brasil. Agora, não tenho respostas sobre qual será, quando virá e em qual formato. Mas estamos nos preparando, montando time, avaliando todas as oportunidades”, afirma o executivo. Ele diz que o grupo ainda não planeja participar dos leilões de água e esgoto marcados para setembro, por uma questão de “timing” apertado.

Sua avaliação é que a mudança no mercado virá no longo prazo. “Com a aprovação do novo marco, não vai acontecer uma avalanche de investimentos. Alguns governos estão se mexendo, mas é um processo que demora anos.”

A perspectiva de privatização de grandes empresas, como a Sabesp e a Copasa, tampouco parece próxima, segundo Felipe Pinto, também sócio de infraestrutura do Pátria. “É um caminho que conseguimos enxergar, mas não nos próximos 12 a 18 meses. Talvez vejamos antes empresas menores vindo a mercado, no Norte, Nordeste, Centro-Oeste”, diz ele.

O novo fundo de R$ 10 bilhões é o quarto da gestora com foco apenas em infraestrutura. O primeiro deles foi captado em 2006 e deu origem à empresa que depois se tornou a CPFL Renováveis, de geração elétrica. O segundo, de 2011, levantou os recursos que criaram a Hidrovias do Brasil, de logística, e a Highline, de infraestrutura de telecomunicações. O terceiro, captado entre 2014 e 2015, levantou R$ 5,3 bilhões e garantiu a entrada do Pátria no segmento de data center e em concessões de rodovias, setor no qual o grupo se tornou um dos grandes operadores.

Agora, o plano é manter os investimentos nas áreas em que a gestora já tem experiência: transporte e logística; telecomunicações e dados; e energia elétrica – além de saneamento básico.

Embora a captação tenha se encerrado só agora, o fundo já estava funcionando, em fase préoperacional. Dos R$ 10 bilhões, cerca de 40% já estão comprometidos com três projetos: o primeiro deles é a Essentia Energia, novo braço de geração renovável do Pátria; o segundo são os investimentos da concessão rodoviária de Piracicaba-Panorama, em São Paulo, conquistada pelo grupo em janeiro deste ano; e o terceiro é uma nova plataforma de infraestrutura para telecomunicações – a nova marca será lançada em breve, diz Castello Branco.

“O restante dos investimentos ainda somam um volume de capital grande. Além disso, muitos cotistas se interessam em coinvestir e entrar com recursos adicionais em projetos específicos], então nossa capacidade de mobilização de capital é maior que a do fundo em si”, explica

Um dos ativos em estudo pelo Pátria é a concessão da Ferrogrão, uma megaferrovia que demandará mais de R$ 8 bilhões de investimentos, ligando o Mato Grosso aos portos do Arco Norte. “É um projeto grande, importante. Ainda há muitas definições a serem feitas, temas complexos, mas é um setor que está no nosso escopo e estamos olhando”, afirma.

O grupo também está analisando ativos em mobilidade urbana, rodovias e as privatizações de companhias docas. O setor de aeroportos, um dos mais atingidos pela pandemia, também segue no radar, mas as incertezas terão que ser consideradas. “Não acredito que vai deixar de ser um bom negócio. Mas vai ser reprecificado, porque os comportamentos mudaram. Vamos olhar”, diz.

Outro segmento destacado pelos executivos é o de telecomunicações e dados. “Percebemos ainda um grande gargalo nessa infraestrutura no Brasil. Com o advento do 5G, deve haver uma alocação relevante para esse setor no nosso fundo”, diz Pinto