Valor Econômico
10/01/2020

Por Taís Hirata

Confiante na economia, gestora mapeia oportunidades em energia, transporte e saneamento

Consolidada como uma das maiores operadoras de rodovias do país, a gestora Pátria já prepara seus próximos passos em outros setores, como energia, aeroportos e saneamento básico. Hoje, não há segmento da infraestrutura brasileira no qual o grupo não avalie investir, segundo o sócio Otavio Castello Branco.

“Não temos restrição. Havia no passado, por questões de governança, cartel. Mas hoje, depois de melhorias, da operação Lava Jato e da consolidação de uma visão mais pró-mercado no país, não tem nenhum setor para o qual a gente não olhe, embora sejamos mais ativos em alguns do que em outros”, disse o executivo em conversa com o Valor, um dia após a vitória no leilão do corredor rodoviário Piracicaba-Panorama (“Pipa”).

O grupo venceu a disputa, realizada na quarta-feira, com uma oferta de R$ 1,1 bilhão, feita em parceria com o fundo soberano de Cingapura GIC, que detém 30% do consórcio. “Estamos muito confortáveis com o preço que pagamos. Estudamos essa concessão há mais de um ano, foi um preço consciente. Foi a nossa melhor oferta, o leilão é desenhado para isso”, afirmou.

O lance também demonstra confiança na retomada da economia. “O tráfego em estradas é muito ligado ao PIB. Vivemos um momento favorável, a expectativa é que o fluxo continue aumentando”, diz Castello Branco.

O Pátria tem um histórico robusto de investimentos em infraestrutura, no qual atuou criando empresas do zero e assumindo o controle das operações. O grupo fundou, em 2006, o negócio de geração elétrica que, mais tarde, se tornou a CPFL Renováveis. A gestora também deu origem a empresas como a Argo, de transmissão de energia, e a Hidrovias do Brasil, de logística.

Neste momento, o grupo está em fase de captação do seu quarto fundo de investimentos voltado apenas para infraestrutura.

 O executivo não revelou mais informações sobre o processo, mas o Valor apurou que a expectiva é levantar entre US$ 2,5 bilhões e US$ 2,8 bilhões, dos quais boa parte já foi captado, conforme duas fontes. “Apesar do amplo interesse em infraestrutura no Brasil, há poucos fundos dedicados, o que abre espaço para esse perfil de captação”, diz uma fonte do setor.

Mesmo sem ter concluído a captação, o fundo Pátria Infraestrutura IV já está em fase préoperacional. Parte dos recursos foram aplicados em dois projetos de geração renovável e, agora, no leilão rodoviário de “Pipa”.

Com a queda na taxa de juros, a gestora nota uma mudança no perfil de investidores de seus fundos, que têm atraído mais brasileiros e pessoas físicas.

“No passado, a gente sempre captou dinheiro fora do país, com fundos de pensão, fundos soberanos. A proporção era de 90% de estrangeiros. A turma sempre nos perguntava: por que os brasileiros não entram? Porque estavam em renda fixa. O que vemos agora é a transferência maciça de renda fixa para a economia real. Vemos isso em várias áreas do Pátria [que também tem fundos com outros perfis]. É uma tendência para aumentar a taxa de investimento no Brasil, e a infraestrutura é a principal demandante disso”, afirma.

Planos para aplicar esses recursos não faltam. Além de manter sua disposição em participar de novos leilões de rodovias, o Pátria avalia concorrências em diversos segmentos. Veja a seguir alguns dos planos da gestora.

Rodovias

A partir da conquista de “Pipa”, o Pátria estuda a criação de uma empresa que possa reunir seus negócios rodoviários. A princípio, porém, eles seguirão separados, até porque as sinergias entre as operações não são grandes, diz Castello Branco.

Em relação a novos projetos, a gestora deverá mirar contratos que englobem trechos de demanda madura. É o caso de rodovias já concessionadas, cujos contratos se aproximam do fim, e que estão sendo relicitadas em bloco com outras vias. “Esse modelo foi adotado pelo governo de São Paulo, federal, e outros Estados estão aderindo a essa linha, como Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais”, afirma.

Aeroportos

O Pátria chegou a participar do último leilão, quando fez proposta para um bloco de aeroportos no Nordeste – no entanto, perdeu a disputa para a espanhola Aena. Com a perspectiva de novas concorrências do setor, a gestora volta a preparar sua possível estreia no mercado.

“Houve uma melhora grande na regulação de três anos para cá. Os modelos de concessão que criaram problemas no passado foram aprimorados, e as últimas rodadas têm sido boas. Por enquanto, estamos avaliando tudo que o governo anuncia”, afirma. Em 2020, a União pretende leiloar três blocos regionais: no Sul (que inclui o aeroporto de Curitiba), no Norte (Manaus), e na região Central (Goiânia e São Luís).

Geração de energia

A gestora segue investindo em projetos de energia renovável e tem planos de ampliar sua atuação em geração térmica a gás natural, por meio da Arke, um braço criado apenas para esse segmento. Hoje, a Arke já tem uma joint venture com Shell e Mitsubishi para operar a termelétrica Marlim Azul, em Macaé (RJ). “A ideia é expandir na região, que tem vocação para usar o gás natural do pré-sal e condições geográficas para abrigar mais de uma planta”, diz Castello Branco.

Saneamento

A entrada do Pátria no mercado de saneamento básico dependerá da aprovação do novo marco legal do setor, que dará mais segurança jurídica. A gestora não tem nenhum projeto engatilhado, mas faz planos. “Estamos no começo dessa preparação. Nos próximos dois anos, podemos nos confrontar com oportunidades concretas. Vai depender da aprovação do marco.” As novas regras foram aprovadas pela Câmara dos Deputados no fim de 2019, mas a votação final não deverá ocorrer antes de maio, segundo analistas do setor.

Ferrovias

A gestora também avalia oportunidades no setor de ferrovias, embora não haja nada concreto. “Acompanhamos. Não temos uma decisão porque [os leilões] estão distantes, mas o segmento está no radar”, diz Castello Branco. O principal desafio desses projetos, diz ele, é garantir a demanda de clientes que utilizarão a via. Sua avaliação é que, entre os grandes projetos em estudo hoje, a Ferrogrão é aquele com demanda mais clara e segura. “A vantagem é que já nasce com clientes. A dificuldade, neste caso, será a execução. É uma obra longa, em uma região sensível [Amazônia].” (Colaborou Maria Luíza Filgueiras)