Valor Econômico
21/01/2021

Por Alessandra Saraiva

Estudo da FGV leva em conta encolhimento de 2020 e crescimento de 2021 com base na pesquisa Focus e no FMI

O Brasil deve encerrar 2021 com PIB per capita 2,3% abaixo de 2019, ano anterior à pandemia – e esse indicador não tem prazo para retornar ao que era antes da crise. O alerta partiu dos pesquisadores da Fundação Getulio Vargas Claudio Considera e Juliana Trece, em estudo divulgado ao Valor.

Os economistas levam em conta projeções de mercado, do boletim Focus e do FMI, que sinalizam queda de 5,1% no PIB per capita em 2020, devido à pandemia; e crescimento de cerca de 3% na economia em 2021. Mas a recuperação na atividade esperada para este ano não será suficiente para superar perdas da economia brasileira com a crise em 2020, resumiu Considera.

Isso afeta o PIB per capita. O Brasil não está sozinho: de 200 países analisados no estudo, só 30 conseguirão retornar em 2021 ao PIB per capita anterior à pandemia.

Juliana Trece disse que em 2019 o PIB per capita era R$ 35.247. Deve ter caído para R$ 33.449 em 2020 e pode chegar a R$ 34.453 este ano.

A incapacidade de recuperação de PIB per capita no país em 2021, mesmo com estimativa de alta na economia esse ano, leva em conta dois fatores. O primeiro: o “baque” na atividade de 2020 foi muito grande. As projeções da FGV apontam para queda em torno de 4,4% no PIB do ano passado. O segundo é a constatação que, mesmo antes da covid-19, a atividade não vinha em ritmo de crescimento elevado. O cenário desafiador mesmo antes da covid-19 faz com o PIB per capita do país se recupere a ritmo mais lento do que a média mundial. No estudo, a média do PIB per capita mundial em 2021 ainda vai estar 1,4% abaixo de nível de 2019.

O indicador do Brasil deve ficar menos desfavorável do que média das economias da América Latina. Nesse bloco, o PIB per capita deve encerrar 2021 ainda 6,5% abaixo do de 2019. O desempenho do continente é afetado por resultados muito ruins, com quedas mais intensas que a média mundial. É o caso da Venezuela, que deve encerrar este ano com PIB per capita 31,9% abaixo de nível covid, e da Argentina, com 9,3% a menos.

No caso das economias emergentes – incluindo o Brasil -, o PIB per capita deve terminar o ano, em média, 0,4% acima de nível de 2019, sendo o único bloco a ter resultado positivo. Mas o desempenho se deve quase exclusivamente à China, que deve encerrar ano com PIB per capita 9,6% acima de 2019.

Questionados sobre quando PIB per capita brasileiro voltaria ao “normal”, com patamar equivalente ao de antes da pandemia, os técnicos foram taxativos ao dizer que não há como fazer previsão adequada. “Depende de inúmeros fatores, e ainda há muitas incertezas”, afirmou Juliana. Para Considera, a “recuperação da atividade econômica depende de retorno de convívio social, e isso só ocorrerá com a vacina”