Valor Econômico
04/12/2019

Por Ana Conceição e Anaïs Fernandes

Apesar de alta de 2%, economistas evitam cravar que se trate de uma retomada

Após a surpresa positiva no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, os investimentos voltaram a subir no período de julho a setembro, alimentando a expectativa de que a trajetória continuará de alta nos próximos meses. Economistas evitam, no entanto, cravar que se trate de uma retomada, já que o rol de incertezas diminuiu, mas ainda existe.

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – que mede investimentos em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação – cresceu 2% no terceiro trimestre, ante os três meses anteriores, quando já havia subido 3%, segundo o IBGE. Mas ainda está quase 25% distante de seu maior patamar, alcançado no segundo trimestre de 2013.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destacou que o resultado positivo foi disseminado. Pela desagregação no indicador Ipea de FBCF, a construção subiu 1,1% no período, enquanto a demanda por máquinas e equipamentos avançou 2,3%.

A LCA Consultores também considerou o resultado expressivo no terceiro trimestre, puxado pela importação de bens de capital e pela importação ficta (operação contábil em que o produto não sai do país) de uma plataforma de petróleo. Desde 2018, os dados de FBCF estão “inflados” por causa dessas importações, observa a consultoria.

Investidores afastaram alguns riscos do radar, principalmente o fiscal, após a aprovação da reforma da Previdência, promulgada em novembro. O cenário externo, porém, segue marcado por instabilidades, como a guerra comercial entre os EUA e a China, o que pode inibir investimentos.

Há restrições também para uma aceleração maior da economia justamente em outra faceta da construção: as obras de infraestrutura, que seguem estagnadas. Um mapeamento feito pelo Itaú Unibanco sobre as concessões de infraestrutura já realizadas pelo governo mostra que elas terão um impacto de 0,1% no PIB de 2020 e de 0,3% em 2021 e em 2022, já considerando o efeito multiplicador do investimento no PIB. Assim, pode-se contar com algum impulso positivo para a atividade, mas moderado, observa Luka Barbosa, economista do banco.

Para a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) a recuperação dos investimentos está e tende a continuar lenta. “A não ser que se utilize instrumentos de política fiscal para influenciar uma retomada mais acelerada”, afirma em nota.

A infraestrutura, parte relevante da FBCF, deve crescer marginalmente este ano e pode acelerar um pouco mais em 2020, diz a Abdib. O investimento em infraestrutura em 2019 deve atingir R$ 131,7 bilhões, contra R$ 122,8 bilhões em 2018, em números atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

“Estamos patinando ainda nessa área”, afirma Venilton Tadini, presidente-executivo da associação. “Em 2020, as perspectivas são mais promissoras em áreas como petróleo e gás natural, saneamento básico, energia elétrica e transportes.”

Um desempenho um pouco mais forte da economia pode contribuir para que empresas desengavetem alguns projetos, afirma Laura Karpuska, economista da BlueLine Asset. Por enquanto, a elevada ociosidade da economia desestimula aumento de capacidade. O que explica a taxa de investimento de apenas 16,3% do PIB no terceiro trimestre, a mesma de igual período em 2018.