Valor Econômico
24/07/2020

Por Fabio Graner

Trabalho do Ipea mostra efeito expressivo sobre crescimento local

Os empréstimos do BNDES têm um grande impacto no crescimento econômico regional. É o que mostra um texto para discussão que acaba de ser publicado pelo Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “As estimativas dos momentos indicam que um aumento de empréstimos indiretos [repassados através de outros bancos] do BNDES em R$ 10 mil per capita deve aumentar o PIB local per capita em 3,1%”, diz o texto, de autoria do pesquisador do Ipea e professor da Universidade Católica de Brasília, Philipp Ehrl, e dos assessores do Banco do Brasil Greisson Pereira e Vinicius Zanchi.

Com base em cálculos econométricos e considerando as operações realizadas no período de 2007 a 2016, os autores constataram que, em períodos de crise, o banco de fomento mantém seu impacto positivo no crescimento local, o que não ocorre nas operações de bancos privados e de outras instituições públicas.

Ao Valor, Ehrl avalia que isso mostra a importância do banco para um momento como o atual, em que há forte queda da atividade econômica. Ele recomenda que esse poderio do banco poderia ser usado para fomentar a retomada do crescimento econômico em locais mais atingidos pelos efeitos do coronavírus.

O estudo também avaliou o impacto dos demais tipos de bancos sobre o crescimento nos municípios. O aumento de crédito nas demais instituições públicas está associado a um PIB per capita 5,3% maior, e, nos privados, 1,6% superior, mas fora de períodos de crise. Quando a situação se complica, porém, esse efeito desaparece, e só o BNDES gera bons resultados.

“Descobrimos que a maior parte dos efeitos positivos da oferta de crédito de qualquer um dessas três fontes é perceptível nas regiões menos populosas. Uma vez que controlamos para o ciclo de negócios nos municípios, praticamente apenas os efeitos positivos de crescimento dos empréstimos do BNDES permanecem”, aponta o texto. “[Esses efeitos positivos] não são impulsionados pelo ciclo da atividade econômica nacional ou regional, em oposição aos dos empréstimos de bancos comerciais privados ou públicos. Um dos pontos fortes do BNDES é a política de empréstimos anticíclica no decorrer das recentes crises financeiras”.

Philipp Ehrl levanta a hipótese de que isso pode estar associado ao fato de que bancos comerciais têm preferência por garantir seus resultados, adotando postura mais defensiva na crise. Já o BNDES não teria essa restrição, pois depende muito mais de o governo injetar dinheiro para ele atuar. “Quando a economia vai muito bem, ela não precisa tanto dos empréstimos do BNDES e, nesse caso, eles não são os mais eficientes”.

O estudo aponta que as operações indiretas do BNDES, em que o crédito é intermediado por outros bancos, produzem melhores resultados em termos de impacto no crescimento do que as diretas, mais voltadas para grandes empresas e cidades maiores. “Os indiretos são mais eficientes possivelmente por serem pulverizados, talvez melhor administrados, não sabemos exatamente porque”, disse Ehrl, comentando que há uma gestão de risco pelos repassadores.

O trabalho também aponta que a eficiência do BNDES depende primordialmente do tamanho da empresa, tendo impacto maior naquelas de menor porte e regiões onde a oferta de crédito é escassa.