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14/04/2020

Análises na água de esgoto mostram presença de fragmentos do RNA do Covid-19, detectam microbiologistas do instituto holandês KWR

Os microbiologistas do instituto de pesquisa KWR (Instituo holandês que tem as companhias de saneamento como acionistas) conduziram uma série de análises de RNA (molécula responsável pela síntese de proteínas das células do corpo) em estações municipais de tratamento de esgotos. As análises mostraram a presença de fragmentos do gene RNA do vírus Covid-19 na água de esgoto recebida.

Segundo a KWR, a triagem do vírus Covid-19 em estações de tratamento de esgoto municipais pode ser usada para sinalizar novos surtos com antecedência e desempenhar um papel importante para acompanhar a evolução da pandemia.

A análise de RNA é um método para medir a presença de vírus através da captura de partículas de vírus e detectar fragmentos de genes específicos. O método não discrimina entre partículas inativas e infecciosas. Os microbiologistas da KWR dizem que ainda não foram capazes de quantificar a presença desses fragmentos. Suas primeiras descobertas indicam que a concentração do vírus na estação de tratamento é baixa.

Atualmente, os pesquisadores estão examinando todas as amostras várias vezes e analisando a reprodutibilidade dos resultados. Além disso, eles checam e se concentram em fragmentos de múltiplos genes, para fortalecer seus resultados sobre a presença do vírus.

Nenhuma surpresa real

A detecção de Covid-19 na água de esgoto, segundo o portal watershare.eu que divulgou a notícia, não é realmente uma surpresa. A água de esgoto contém muitos vírus e era de se esperar a detecção do novo coronavírus nas fezes humanas.

Resultados de estudo divulgados por microbiologistas chineses, já em 2005, mostravam que o RNA da SARS-CoV havia sido detectado na água de esgoto dos hospitais chineses onde os pacientes com SARS havia sido tratados.

Alerta precoce de novos surtos

A KWR sugere o uso das análises de RNA do Sars-CoV-2 na água de esgoto como uma ferramenta para medir a circulação do vírus nas cidades ou municípios menores. O nível de concentração do vírus pode ser um indicador do número de infecções na população e pode sinalizar antecipadamente um novo surto, por exemplo, quando um bloqueio é suspenso.

Da mesma forma, essas análises podem ajudar a monitorar o efeito das medidas implementadas para mitigar a propagação da pandemia, de acordo com a KWR.

ABES defende a importância da pesquisa sobre o tema

Estudos recentes, segundo o portal da ABES, relatam a presença do novo coronavírus (Sars-CoV-2), causador da doença denominada Covid-19 (sigla para coronavirus disease 2019), em amostras de excretas de pessoas infectadas e em esgoto de locais com focos de infecção.

Na Holanda, por exemplo, após quatro dias do anúncio da primeira pessoa infectada com o vírus, em 27 de fevereiro de 2020, iniciou-se o monitoramento semanal do esgoto do Aeroporto de Schiphol, em Amsterdam. A partir de métodos moleculares, detectaram-se materiais genéticos do referido vírus em amostras do esgoto coletadas nas proximidades do Aeroporto, bem como na estação de tratamento de esgoto localizada em suas imediações.

Prossegue a nota da ABES: Não há evidências da transmissão do vírus causador da Covid-19 via feco-oral. Mesmo assim, cabem esclarecimentos acerca dos cuidados inerentes ao manejo do esgoto, sobretudo no atual cenário de pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda não se sabe exatamente quanto tempo o novo coronavírus permanece ativo no esgoto e no meio ambiente, ou seja, fora do organismo humano.

Estudos indicaram que a viabilidade no esgoto de outros tipos de coronavírus é da ordem de dias e que há uma correlação inversa com a temperatura do esgoto, ou seja, quanto maior a temperatura do esgoto, menor é o eventual tempo de permanência do vírus no esgoto na forma viável e infectiva. Por exemplo, em experimentos realizados com o esgoto proveniente de hospitais de Beijing/Pequim – China, demonstrou-se que o vírus continuou viável (infeccioso) por 14 dias, a 4 ºC, mas somente por 2 dias, a 20 ºC. 

Contudo, ainda não há elementos científicos que comprovem que o vírus encontrado no esgoto pode provocar a Covid-19 por meios como a ingestão (via feco-oral), a inalação oriunda de aerossóis que contenham gotículas de esgoto contaminado ou mesmo penetração através das mucosas dos olhos e feridas e/ou aberturas em peles. Além disso, recentes avaliações realizadas sobre o assunto indicam que é pouco provável a efetividade dessas rotas de transmissão do vírus.

De qualquer forma, entende-se como importante a integração de esforços para a realização de pesquisas voltadas para a investigação do tempo de viabilidade e da infectividade do novo coronavírus no esgoto, nas condições tropicais típicas do Brasil, conclui a ABES.