Em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, Roberta Maas dos Anjos, presidente da Casan, conta sua história

Data comemorativa oficializada pelas Nações Unidas em 1970, o Dia Internacional da Mulher simboliza a luta histórica contra disparidade salarial, desigualdade de gênero e combate à violência. Neste 8 de março, para celebrar a data, a Aesbe traz uma entrevista especial com a presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), Roberta Maas dos Anjos.

Primeira mulher a dirigir a Companhia, Roberta graduou-se em 2003 como engenheira sanitarista e ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina e, em 2010, como engenheira civil pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Antes, havia concluído o curso técnico em Saneamento pela Escola Técnica Federal de Santa Catarina em 1997. Fez seu primeiro concurso para a Casan como técnica em saneamento e seu primeiro dia de trabalho foi em 8 de março de 2004, exatamente no Dia Internacional da Mulher.

Além dela, a Casan conta com uma forte presença feminina. Seu quadro funcional é composto por engenheiras sanitaristas, civis e eletricistas, técnicas em saneamento, operadoras de Estações de Tratamento de Água ou de Esgoto, advogadas, administradoras e auxiliares de laboratório, entre outras profissionais. Dos atuais 2.614 funcionários, 528 são mulheres, ou seja, cerca de 20%. Sendo que nos últimos dois anos, houve um acréscimo feminino de 13,75% no quadro funcional.

Aesbe: Fale sobre os desafios que enfrentou por ser mulher.

Roberta Mass dos Anjos: Comecei a trabalhar muito nova. Por muitas vezes as pessoas me pré conceituavam como uma pessoa fraca e inexperiente. Ainda hoje escuto comentários “ela não vai dar conta, é mulher”. Quanto ao assédio, posso dizer que ele existe. Algumas vezes, fui assediada, até mesmo moralmente, por homens de cargos mais elevados. Sempre procurei, não estar sozinha em reuniões. Faço isso até hoje. 

A engenharia ainda é uma profissão predominantemente masculina?

Hoje, há um ingresso maior de mulheres na área, mas o mercado ainda é muito masculino. No passado participei do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia – CREA. Por dois anos fui diretora financeira e por um ano vice-presidente do Conselho. Quem consultar o acervo de imagens de reuniões e ocasiões que participo, verá que, em quase todos os momentos, sou a única mulher nas fotografias. Atualmente, aumentou o número de mulheres engenheiras, mas no mercado ainda não se reflete tanto equilíbrio.

Qual conselho você daria para a mulher que está entrando hoje no mercado de trabalho?

Ela não pode se intimidar. Se é um projeto profissional com o qual ela tenha afinidade, ela não pode deixar de fazer. Ao mesmo tempo, precisa estar segura de seus objetivos e não se amedrontar com os assédios que, infelizmente, ainda acontecem no dia a dia. E isso serve para todas as formas de assédio, seja sexual ou moral. É preciso que toda mulher seja firme em seus pensamentos. Quando se é honesta e segura, é mais fácil passar por qualquer situação. 

Você acredita que as mulheres possuam habilidades próprias que contribuem para a vida profissional?

Acho que a mulher passa uma segurança maior e um senso protetor. A equipe se sente muito protegida. E também a questão da assertividade, de ter um “não” respeitado. Muitos prefeitos me elogiam e atestam que lhes passo segurança, porque dizem que eu justifico tecnicamente o porquê de um não. Esse tipo de segurança está atrelado à sinceridade. Acho que esse senso de segurança é muito da mulher. 

É válido achar que há mesmo uma relação entre a honestidade feminina e a menor incidência de casos de corrupção ou mesmo de pequenos desvios éticos do dia a dia?

Não é que não existam mulheres corruptas, porém, acredito que, proporcionalmente, são menos casos se comparados aos homens. Creio que a mulher se preocupa mais com sua imagem e as consequências de seus atos. Por exemplo: a primeira atitude que tomei quando assumi a presidência da Casan foi marcar reuniões com o Ministério Público de Contas, Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas e Tribunal de Justiça. Fui a todos os órgãos de controle para me colocar à disposição. São caminhos que, às vezes, até algumas pessoas evitam. Entretanto, encorajo constantemente minha equipe, sobretudo minhas colegas a percorrê-lo. Há suspeita, por exemplo, de sabotagem de um sistema? Faça um boletim de ocorrência. Então, se há algum problema, vá atrás. Não se trata de sair divulgando qualquer fato sem critério e para qualquer um, é trilhar o caminho correto. Converse com um juiz, com um delegado. Não tem que fugir. Cada um tem sua responsabilidade técnica profissional e está lá para fazer o correto. O encorajamento é importante e acaba sendo uma característica imprescindível à mulher também. 

Há alguma mulher que a inspire?

Meus valores vêm muito de casa, por isso é impossível não pensar na minha mãe, Tânia, pedagoga e mulher muito batalhadora. E, além dos bons exemplos, percebi que se aprende também, e muito, com as situações e exemplos errados. Eu digo muito aos meus estagiários: às vezes, você não concorda com um chefe seu. Mas, assim como acontece com as experiências positivas, leve consigo os exemplos negativos, mesmo que em uma perspectiva de “isso eu nunca vou querer fazer”.

Qual outra realidade ainda é tipicamente enfrentada pelas mulheres no mercado de trabalho?

A maternidade, sem dúvida, e toda a questão que envolve a licença do trabalho. O homem sai por uma semana; para ele não é problema ser pai. Muita gente me pergunta: “tu não vais ser mãe?”. Eu digo “por enquanto, não! Agora, os meus filhos são 195 municípios e 2.600 funcionários” (risos).       

Deixe uma mensagem final para mulheres e homens sobre o Dia Internacional da Mulher.

O espaço de todos tem que ser respeitado, independentemente de sexo. Não defendo privilégios para as mulheres. Mas, realmente, todos devem ser tratados com igualdade. Tudo bem lembrar disso no Dia Internacional da Mulher, mas o respeito deve se estender para todos os dias.

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