Valor Econômico
19/02/2021

PIB avançou de 3,4% no quarto trimestre, em relação ao terceiro, na série com ajuste sazonal

A economia brasileira encolheu 4,0% em 2020, sinaliza o Monitor do PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), divulgado nesta sexta-feira. Pela ótica da produção, dos três grandes setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços), apenas a agropecuária cresceu (2,0%). Pela ótica da demanda, todos os componentes se retraíram, com destaque para o consumo das famílias, que teve queda de 5,2% no ano.

“A expressiva queda de 4,0% da economia em 2020 consolida retrações disseminadas em diversas atividades econômicas, em decorrência da pandemia de covid-19. Embora a economia esteja acelerando no final do ano, com crescimento de 3,4% no 4º trimestre e de 1,0% em dezembro, nas comparações contra os períodos imediatamente anteriores, na comparação com iguais períodos do ano de 2019 os resultados não foram suficientes para compensar a perda expressiva que o PIB sofreu, principalmente, no 2º trimestre”, diz Claudio Considera, coordenador do monitor.

Segundo ele, “os desafios para 2021 mostram-se grandes a partir deste cenário, tendo em vista que devido ao crescimento lento de 2017-2019 a economia não havia sido capaz de recuperar as perdas da recessão de 2014-2016. Com o choque adverso enfrentado em 2020, que ainda não foi totalmente eliminado, os resultados de 2014, pico da série histórica, parecem cada vez mais distantes de serem alcançados”.

O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou crescimento de 3,4% no quarto trimestre, em relação ao terceiro trimestre, na série com ajuste sazonal, mostrando aceleração da atividade econômica no final do ano. Em relação ao quarto trimestre de 2019, o PIB apresentou retração de 0,8%.

Na análise mensal, o PIB apresentou crescimento de 1,0% em dezembro, na comparação com novembro. Na comparação interanual o resultado do PIB de dezembro foi de crescimento de 1,4%; o primeiro resultado positivo após nove meses consecutivos de quedas.

O consumo das famílias se retraiu 5,2% em 2020, em relação a 2019. Este componente, que foi um dos principais responsáveis pelo crescimento da economia após a recessão de 2014-2016, apresentou expressivo recuo em 2020, com a disseminação da pandemia de covid-19. O consumo de serviços foi o que mais recuou em 2020, devido principalmente à queda do consumo de serviços de alojamento e alimentação, saúde privada e serviços gerais prestados às famílias.

Na análise mensal interanual, nota-se que o consumo de produtos não duráveis e duráveis cresceram em dezembro. O forte crescimento de 10,2% do consumo de produtos duráveis foi devido ao aumento do consumo de todos os segmentos que compõem este tipo de bens. Já o consumo de produtos não duráveis cresceu devido, principalmente, ao consumo de produtos alimentícios e farmacêuticos; padrão recorrente no ano de 2020.

A maior queda dentre os componentes do consumo segue sendo a do consumo de serviços, devido principalmente às retrações do consumo de alojamento, alimentação e demais serviços prestados as famílias, todos dependentes da interação social, dificultada devido à pandemia.

A formação bruta de capital fixo (FBCF) recuou 2,9% em 2020, na comparação com 2019. O componente de máquinas e equipamentos, que havia sido o que apresentou maior contribuição para o crescimento da FBCF ao longo de 2018 e 2019, foi o que principal responsável pela retração deste componente em 2020. O segmento de máquinas e equipamentos que mais influenciou neste expressivo recuo do componente foi o de automóveis, camionetas e utilitários.

Na comparação interanual, observa-se que a FBCF cresceu 14,5% em dezembro de 2020, devido, principalmente ao crescimento de 36,3% do componente de máquinas e equipamentos. Esse expressivo aumento foi disseminado entre diversos segmentos, porém os de caminhões e ônibus; tratores e outras máquinas agrícolas e; máquinas e equipamentos mecânicos em geral foram os que tiveram maiores destaques positivos.

A exportação encolheu 1,9% em 2020, em relação a 2019. Os segmentos exportados que retraíram no ano foram os bens intermediários, os serviços e os bens de capital; com destaque para este último que recuou 33,5% no ano. Em contrapartida, os segmentos que apresentaram desempenho positivo foram os de produtos agropecuários, produtos da extrativa mineral e os bens de consumo.

A importação apresentou retração de 10,3% em 2020 ante 2019. Com exceção da importação de produtos agropecuários, que cresceu 2,3% no período, todos os demais segmentos recuaram. Em termos monetários, estima-se que o PIB de 2020, em valores correntes, alcançou a cifra de R$ 7.434.248 milhões, ou R$ 7,434 trilhões. O resultado interrompeu a trajetória de crescimento que se estendia por três anos e retornou ao patamar de 2016. A preços constantes de 2020, o PIB de 2020, embora seja um pouco maior que o de 2016, ainda é inferior aos do período 2017 a 2019. A valores de 2020, o PIB per capita equivale a R$ 35.108, menor valor desde 2008.

A taxa de investimento da economia foi de 16,1% em 2020, a maior taxa desde 2015 (17,3%), de acordo com a FGV.