Por Lucas Hirata e Lucinda Pinto – Valor Econômico

O mercado financeiro ainda busca um nível de equilíbrio para o dólar no curto prazo. Por ora, o ajuste parece ser para cima, ao passo que os investidores continuam avaliando as chances de um novo aperto monetário nos Estados Unidos em 2017.

Ontem, a presidente do Federal Reserve (o banco central americano), Janet Yellen, sinalizou que manterá a política de gradualismo. O comentário até ajudou a afastar a moeda do ponto mais elevado da sessão. Ainda assim, o dólar terminou o dia em alta de 0,26%, aos R$ 3,1659, maior nível desde 22 de agosto, quando marcou R$ 3,1828.

O movimento deriva de um reposicionamento global. As chances de uma nova elevação de juros nos EUA em dezembro praticamente dobrou no último mês, para 80%, de acordo com o que indica a curva de juros americana. O dólar, em termos globais, pode ter chegado ao limite de queda, na avaliação do economista Silvio Campos Neto, da Tendências. “O panorama ajuda a esfriar o otimismo excessivo de parte do mercado”, acrescenta.

Para o sócio-gestor da Flag Asset Management, Sérgio Goldenstein, o movimento pode ser definido como um ajuste, que tende a perder força porque o mercado segue esperando que o Fed atue de forma muito gradual. Por aqui, também contribui para que o dólar acompanhe o movimento externo o fato de o Banco Central estar preparando o resgate de um montante equivalente a US$ 4 bilhões em swap cambial, que vencem no começo de outubro. “Mas o cenário para o câmbio ainda é positivo”, afirma.

Os números divulgados ontem pelo Banco Central confirmam que o fluxo de recursos externos ganhou tração em setembro, refletindo esse ambiente mais positivo para bolsa e também para investimento direto. Houve ingresso líquido de US$ 2,949 bilhões em setembro até o dia 22, sendo que US$ 1,823 bilhão veio pela conta financeira. Somente para a bolsa, houve ingresso de US$ 1,053 bilhão.

Já na conta de Investimento Direto no País (IDP), o saldo ficou positivo em US$ 5,1 bilhões no mesmo período.

Para o curto prazo, o diretor da Wagner investimentos, José Faria Junior, afirma que o dólar ainda deve respeitar esta região em torno de R$ 3,18. “Se romper, deverá ser movimento global e tende a subir um pouco mais, em torno de R$ 3,22”, diz. Ele alerta que nos próximos dias o mercado pode ter alguma instabilidade adicional por causa da formação da taxa Ptax de fim de mês, que serve de referência para liquidação de derivativos cambiais.

O que favorece o comportamento do câmbio doméstico, na visão dos agentes financeiros, é a queda de inflação, a recuperação da economia e as contas externas sólidas do país. Para o diretor de operações internacionais do Banco Paulista e da Socopa, Tarcísio Rodrigues Joaquim, há ainda a leitura de que as novas denúncias contra o presidente Michel Temer devem ser barradas na Câmara de forma mais tranquila que na primeira ofensiva da Procuradoria Geral da República (PGR). O risco, contudo, é que o processo adie “uma das principais necessidades do país, a reforma da Previdência”, diz.

Ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reiterou que a medida deve ser votada entre o fim de outubro e início de novembro “no máximo”. O comentário, entretanto, não se traduziu nos preços dos ativos. “O mercado ainda considera a possibilidade de aprovação antes do fim do ano, mas é bem pequena”, afirma o operador Matheus Gallina, da Quantitas. Até por isso, os ativos não devem sofrer tanto se a proposta ficar só para um novo governo.

Na B3, os contratos de Depósito Interfinanceiro retomaram a tendência de queda. O DI para janeiro de 2021- que também reflete risco de prazos mais longos – recuava a 8,780% ante 8,840% no ajuste anterior. A postura mais defensiva dos agentes financeiros, entretanto, ainda deixou algumas marcas.

Ontem, a curva de juros ampliou ligeiramente sua inclinação, sinalizando o aumento do prêmio exigido para alocação em vértices mais longos. A diferença entre o DI janeiro de 2023 e o DI janeiro de 2019 subiu a 2,22 ponto no fim da sessão regular, renovando a máxima histórica desse trecho.