Por Rafael Rosas e Alessandra Saraiva – Valor Econômico

30/01/2019 – 05:00

As consultas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado somaram R$ 98,8 bilhões, estáveis ante 2017. Apesar dessa estabilidade no indicador considerado o principal termômetro sobre a demanda do mercado pelos recursos da instituição, o banco de fomento segue otimista sobre um desempenho melhor neste ano.

Para Maurício Neves, superintendente da área de planejamento do BNDES, “a expectativa para 2019 é positiva, a partir da perspectiva de recuperação mais forte da economia”.

Ontem o banco divulgou o desempenho de 2018. Os desembolsos somaram R$ 69,3 bilhões, uma queda de 2% ante 2017, mas a principal fonte do otimismo demonstrado por Neves estava nas aprovações, que subiram 27% em 2018, para R$ 94,8 bilhões.

“Olhando as aprovações, o viés para 2019 é de crescimento”, diz Neves, lembrando que a maior parte desse crescimento nas aprovações veio da área de infraestrutura, que tem projetos de maturação mais longa, o que garante um ritmo de desembolsos mais longo durante o ano. “Não será um desembolso ‘no dia seguinte’. Parte das aprovações vai se fazer como tendência positiva ao longo do ano”, acrescentou.

O setor de infraestrutura teve volume de aprovações de R$ 47,6 bilhões no ano passado, 60% a mais que em 2017 e cerca de 50% do total aprovado em 2018.

Mas um desempenho mais robusto em 2019 não deverá ser um obstáculo para a instituição. As tabelas deflacionadas divulgadas pelo BNDES mostram que, a valores constantes, o desembolso no ano passado foi de R$ 70,118 bilhões, o menor patamar para qualquer ano desde os R$ 59,821 bilhões de 1999. Nas consultas, os R$ 100,25 bilhões a valores constantes representam o valor anual mais baixo desde os R$ 87,74 bilhões de 1996.

Neves manteve o otimismo em relação às expectativas para este ano mesmo ao ser questionado sobre o fraco desempenho das consultas na ponta. Em dezembro, as consultas de empréstimo junto à instituição atingiram R$ 6,375 bilhões. O montante é 4,37% inferior ao observado em novembro do ano passado (R$ 6,667 bilhões) e 45,3% menor do registrado em dezembro de 2017 (R$ 11,655 bilhões). Em valores constantes, o resultado de dezembro do ano passado representou o pior nível de consultas para um mês de dezembro desde o início da série histórica, em 1995. Para Neves, o resultado de um mês separado não significa uma tendência e pode ser fruto de um comportamento pontual.

“Às vezes ocorre uma volatilidade por um motivo que não perdura. Não há clareza do que aconteceu com as consultas”, frisa Neves.

Comportamento oposto foi observado em dezembro nos desembolsos. Tradicionalmente, o último mês do ano é um período em que ocorre uma aceleração nas liberações do banco de fomento. Mas em dezembro do ano passado os desembolsos do BNDES, a preços constantes, somaram R$ 13,787 bilhões, montante 112,8% superior ao observado em novembro do ano passado (R$ 6,476 bilhões) e 36,9% maior que o registrado em dezembro de 2017 (R$ 10,069 bilhões).

Pela mesma série histórica, é possível perceber que, ao se comparar todos os meses na série iniciada em 1995, o patamar de desembolsos de dezembro de 2018 foi o maior em três anos, desde dezembro de 2015 (R$ 21,712 bilhões). Mais uma vez, o destaque foi a infraestrutura, com R$ 9,337 bilhões em dezembro, 296,9% acima de novembro do ano passado (R$ 2,352 bilhões) e 85,1% a mais que em dezembro de 2017 (R$ 5,043 bilhões).

Neves afirmou que os desembolsos de dezembro foram puxados por operações nas áreas de energia, na transmissão e distribuição, e na logística, tanto rodoviária quanto em aeroportos.

Questionado sobre a possibilidade de um desempenho melhor neste ano interferir no cronograma de devolução dos recursos ao Tesouro Nacional pelo banco de fomento, Neves afirmou que ainda é cedo para prever um patamar de desembolsos ou de crescimento nas liberações da instituição ao longo do ano. “A perspectiva positiva não inclui números.

A discussão sobre a devolução ainda vai ocorrer”, diz Neves.