Valor Econômico
15/01/2020

Por Gabriel Vasconcelos

A companhia usará carvão ativado para reduzir a presença da substância geosmina na água

A Companhia Estadual de Água e Esgoto do Estado do Rio de Janeiro (Cedae) anunciou nesta quarta-feira que usará carvão ativado para reduzir a presença da substância geosmina na água distribuída pela companhia no Estado fluminense em 64 municípios.

A substância, produto da proliferação de algas no sistema Guandu — o maior dos três administrados pela companhia —, tem sido apontada por especialistas como a razão pela qual a água da Cedae tem apresentado cor turva e cheiro forte em alguns bairros do Rio nas últimas semanas.

A empresa afirmou já ter comprado equipamento para alocar carvão na água. “Se já tivéssemos o equipamento, não passaríamos por esse problema”, disse o presidente da Cedae, Hélio Cabral, em entrevista coletiva, na capital fluminense para tratar do tema. Na ocasião, pediu desculpas à população pelos transtornos na qualidade da água.

O executivo afirmou ainda que o combate à geosmina começará na próxima segunda ou terçafeira e, com isso, as alterações na água distribuída vão desaparecer já na semana que vem.

Nas duas últimas semanas, a empresa controlada pelo governo do Estado e que passa por negociações para processo de desestatização tem recebido reclamações de seus clientes sobre coloração e gosto estranhos na água fornecida pela empresa. Cabral e os quatro gestores da empresa presentes na fala à imprensa explicaram que as altas temperaturas do verão favoreceram a proliferação das algas, que acabam por liberar quantidade fora do normal de geosmina na água. Segundo eles, o teste para verificação da substância na água não é obrigatório pelo Ministério da Saúde.

O presidente da Cedae confirmou a exoneração do chefe da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu, Júlio César Antunes, que tinha 30 anos de empresa — a saída de Antunes foi veiculada pela imprensa ontem. O cargo, disse Cabral, será ocupado pelo biólogo e engenheiro ambiental Pedro Ortolano. Há dez anos na Cedae, Ortolano estaria familiarizado com o programa de investimentos na modernização do sistema Guandu, da ordem de R$ 700 milhões até 2022.

Ao detalhar mais sobre as medidas a serem tomadas para mitigar o problema na qualidade da água da Cedae, o presidente da empresa informou também que equipamentos a serem utilizados na neutralização da geosmina foram comprados na última sexta-feira, em São Paulo, e serão trazidos para o Rio a partir de amanhã. Cabral informou ainda que a operação será permanente e os custos são relativamente baixos, cerca de R$ 2 milhões por mês.

O presidente da Cedae falou a jornalistas um dia após críticas do governador Wilson Witzel (PSC) à companhia em sua rede social. O governador do Rio disse que “são inadmissíveis os transtornos que a população vem sofrendo por causa do problema na água fornecida pela Cedae” e disse que determinaria “apuração rigorosa tanto da qualidade da água quanto dos processos de gestão da companhia”.

Também presente, o gerente de controle de qualidade da água do Guandu, Sergio Marques, frisou ainda que a água atualmente distribuída pela Cedae atende aos critérios de potabilidade exigidos pelas autoridades sanitárias.

“Os resultados mostram presença suficiente [da geosmina] para alterar o gosto da água, mas compatível com quantidades presentes em outros Estados. Não existe risco para o consumo da água”, defendeu.

Ao ser questionado pelos jornalistas, porém, Marques não descartou que a matéria orgânica que alimenta as algas, tenha relação com a presença de esgoto. “Pode ser esgoto, mas podem ser nutrientes como os de qualquer manancial”, disse.