Por Rodrigo Rocha – Valor Econômico

21/01/2019 – 05:00

A ArcelorMittal anunciou na sexta-feira o lançamento do primeiro grande projeto de dessalinização do país, com a construção de uma unidade para atender a ArcelorMittal Tubarão, divisão de aços planos no Espírito Santo. A iniciativa é a primeira do grupo em todo o mundo. Segundo a empresa, serão investidos R$ 50 milhões no projeto, que terá capacidade de produzir até 500 m³ de água dessalinizada por hora. Isso é suficiente para abastecer 80 mil pessoas. A água será usada na refrigeração e na produção de água desmineralizada, utilizadas nos processos de produção de aço.

De acordo com Benjamin Baptista Filho, presidente da ArcelorMittal Aços Planos América do Sul, a ideia foi uma das soluções pensadas a partir de 2014, quando a companhia foi atingida pela necessidade de racionamento de água na Grande Vitória. A ArcelorMittal Tubarão é a maior consumidora industrial de água da região.

Até o racionamento, toda a água doce utilizada pela empresa era comprada bruta da Cesan, estatal de saneamento capixaba, e depois passava pela estação de tratamento da ArcelorMittal, que a preparava para vários usos.

O único projeto semelhante da ArcelorMittal é em Gent, na Bélgica, com dessalinização de água salobra, resultante do encontro de rio e mar. A unidade capixaba será a primeira a dessalinizar água do mar. Em capacidade, o projeto é 10 vezes maior que o aplicado em Fernando de Noronha, principal unidade dessalinazadora do país atualmente.

Atualmente, o processo encontra-se em fase de escolha do grupo responsável pela construção da dessalinizadora. A empresa não abre nomes, mas recebeu seis propostas firmes, de grupos com experiência em países como Estados Unidos, Israel, Espanha e Austrália. Agora começa a fase de negociação comercial, que deve demorar dois meses. Até o meio do ano devem ser conseguidas as licenças ambientais. A intenção é iniciar o funcionamento em 2021.

A companhia, entretanto, não deve deixar de consumir a água da Cesan, utilizando mais a dessalinização em períodos de escassez. “Toda experiência que tivemos com especialistas no período é de que há probabilidade de enfrentarmos eventos semelhantes (de racionamento) no futuro”, afirmou Baptista.

Com relação a possíveis investimentos, apesar de estar operando perto da sua capacidade máxima atual, a ArcelorMittal não vê necessidade ampliação ou ajuste nas linhas de produção no momento. A unidade Tubarão é responsável por fazer placas de aço e laminados a quente. Para a produção específica de laminados a quente, não crê que o país precisará de nova linha até 2027 ou 2028.

“Estamos olhando para a frente, dentro de um plano de longo prazo. O Brasil precisará de um laminador a quente em 2027, 2028 e para começar isso são quatro anos antes”, afirmou Baptista.

Segundo ele, para iniciar a produção de laminados a quente na unidade Tubarão, o investimento necessário seria menor do que a maioria dos concorrentes, uma vez que a companhia já tem produção significativa de placas de aço. “Somos uma das poucas empresas que tem condições de ampliar a produção de acabados. Até 2030 temos condições de colocar novos equipamentos”, afirmou Baptista em entrevista coletiva.

O atual limite de capacidade da usina de Tubarão é de 7,5 milhões de toneladas de aço e a intenção é de, com pequenos ajustes de eficiência, elevar esse patamar a 7,7 milhões de toneladas. “No ano passado ficamos em pouco mais de 7 milhões, em 2017 chegamos a 7,2 milhões de toneladas”, disse o executivo. “Estamos avaliando que o mercado vai crescer não só para laminado a quente, mas não temos mais o que fazer para ampliar a capacidade da unidade Santa Catarina, então teremos que fazer aqui.”

No ano passado, a companhia anunciou investimento de US$ 330 milhões na linha de galvanizados de São Francisco do Sul (SC).

Sobre as perspectivas da economia do país, a empresa se diz otimista, principalmente em relação à produção automotiva. A companhia também tem muita expectativa para uma retomada do setor da construção civil.

Quanto às restrições de exportação recentemente aplicadas ao aço brasileiro, a avaliação é da empresa é que ela não é afetada. “Só exportamos semiacabados. Vendemos para Estados Unidos, Canadá e Europa, e semiacabado ficou fora”, completou Baptista.

Repórter viajou a convite da siderúrgica