Estadão
05/12/2019

Por Notas & Informações

Em mais um sinal de recuperação, a produção industrial cresceu 0,8% em outubro e acumulou 2,4% de expansão em três meses, mas terá de avançar com mais firmeza para voltar ao nível de atividade de um ano atrás. Além disso, será necessário um esforço maior e mais longo para o retorno ao desempenho alcançado ainda no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Mas o último balanço foi o melhor para um mês de outubro desde 2012, quando o produto setorial aumentou 1,5%. Na terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia apresentado os dados trimestrais do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o relatório, o PIB do terceiro trimestre foi 0,6% maior que o do segundo. Boa parte dos analistas interpretou o novo conjunto de dados como indicativo de uma reativação mais forte e provavelmente duradoura da economia brasileira.

Essa expectativa deve ter sido reforçada pelo avanço da atividade industrial em outubro, primeiro mês do quarto trimestre. Os últimos números da indústria, segundo se argumenta, já parecem garantir um fim de ano mais próspero do que se previa. Além disso, os três meses finais de 2019 deverão constituir uma boa plataforma para o crescimento geral da economia em 2020 e, se nenhum grande obstáculo for encontrado, também nos anos seguintes. Uma avaliação realista do quadro atual e das perspectivas da produção requer o exame de alguns detalhes.

A fabricação de bens de consumo foi 1% maior que a de setembro e 4,1% mais volumosa que a de outubro de 2018, com crescimento de 0,5% acumulado em 12 meses. O aumento mensal deve ser atribuível pelo menos em parte à liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep. Também houve alguma expansão da massa de rendimentos, graças a alguma criação de vagas, embora o desemprego tenha permanecido muito alto.

O crescimento da venda de bens duráveis (1,3% no mês e 0,6% em 12 meses) é sem dúvida explicável pela melhora das condições de crédito. Um novo corte dos juros básicos deve ser anunciado este mês pelo Banco Central (BC).

Uma redução adicional no primeiro trimestre é considerada muito improvável, mas algum estímulo monetário persistirá, a partir do novo afrouxamento previsto para os próximos dias. Não há como dizer com alguma segurança, neste momento, se outros fatores contribuirão para novos aumentos da demanda de consumo, no próximo ano. Nada sugere, por enquanto, uma melhora mais veloz das condições de emprego no próximo ano.

O avanço na produção de bens intermediários foi modesto em outubro (0,3%). Importantes dados negativos, no caso das grandes categorias, apareceram no balanço da indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos). A produção de outubro foi 0,3% menor que a de setembro e 2,9% inferior à de um ano antes.

 A demanda de bens de capital é um indicador fundamental para a avaliação das perspectivas da economia. Novas máquinas e equipamentos destinam-se a recompor, ampliar e modernizar o potencial produtivo de empresas, unidades de serviço público e de sistemas de infraestrutura, como rodovias, ferrovias, portos e instalações de saneamento. Qualquer diminuição na demanda e na produção de bens de capital pode ser preocupante, especialmente num país onde o valor investido em capital fixo continua muito abaixo do necessário. No terceiro trimestre, ficou em 16,3% do PIB, embora tenha crescido em relação aos três meses anteriores.

Em dez meses o crescimento industrial foi 1,1% menor que o de igual período de 2018. O volume acumulado em 12 meses ficou 1,3% abaixo do contabilizado no período anterior. A recuperação continua muito lenta no setor industrial, o mais importante por seus efeitos de irradiação no conjunto da economia e pela criação de empregos formais e produtivos.

O quadro é especialmente preocupante pelo mau desempenho da indústria de transformação. Mas esse dado parece motivar pouca ou nenhuma inquietação no governo federal.