Valor Econômico
07/02/2020

Por Naiara Bertão

A conclusão de gestores de fortunas consultados é que a remuneração pelo IPCA é o mínimo que seus clientes

O ciclo de redução da Selic, que levou a taxa à mínima histórica de 4,25% anuais, não trouxe só dúvidas sobre onde aplicar o dinheiro, mas qual índice usar como referência para seus investimentos. O CDI, que serviu por muito tempo como principal termômetro das carteiras, agora morreu – ou pelo menos deveria ter morrido como índice de referência. Com o atual patamar da Selic, colocar a régua de rentabilidade mínima que seus investimentos devem oferecer nos 100% do CDI ficou perigoso. E principalmente por causa da inflação.

Quando a taxa Selic estava em 14%, uma inflação de 4% fazia cócegas. Hoje, já tem aplicação dando retorno real (descontada a inflação) negativo, como a poupança e alguns fundos de renda fixa que cobram altas taxas de administração (acima de 0,5% ao ano). Qual referência, então, deve ser usada na hora de calcular quanto devemos ganhar para manter nosso padrão de vida e ter rendimentos para acumular patrimônio?

A resposta é que agora, mais do que nunca, o investidor deve ter na cabeça quanto cada aplicação rende em termos reais. Embora normalmente as pessoas logo pensem no IPCA quando tratam de inflação, é importante ter em conta que a sua cesta de consumo pode ser diferente da média usada pelo IBGE para calcular o índice oficial de preços.

A conclusão de gestores de fortunas consultados é que a remuneração pelo IPCA é o mínimo que seus clientes precisam ganhar para manter minimamente um padrão de vida e não comer suas economias. O segundo passo é rever – e cortar – gastos para que a inflação pessoal não extrapole demais seu rendimento. Por fim, aplicar em ativos mais rentáveis (e mais arriscados) é quase um consenso, desde que, claro, o perfil dos clientes não seja muito conservador.

“É difícil medir a inflação real de cada cliente, por isso fazemos uma média do perfil dos nossos. O fato é que a inflação das classes média e alta está defasada em relação ao IPCA”, diz Eduardo Akira, sócio da Vero Investimento, escritório de assessoria financeira ligado à XP e com foco em alta renda.

“A questão toda para o investidor pessoa física é o investimento de longo prazo. É entender quanto do poder de compra real vai conseguir rentabilizar para ele se aposentar”, afirma Rodrigo Octavio Marques de Almeida, diretor de investimentos da gestora com foco em alta renda Andbank.