Por Ana Paula Ragazzi – Valor Econômico

27/05/2019 – 05:00

Os bancos de investimento tiveram de reembalar duas ofertas de debêntures nos últimos dias para garantir a colocação das operações. A exemplo do que já havia acontecido com Localiza, Restoque e CVC, desta vez papéis da Sabesp e da Ecorodovias tiveram de sofrer ajustes.

Apesar de a demanda para a compra de debêntures estar superior à quantidade de papéis que vem sendo ofertada, os investidores seguem deixando claro que as taxas já baixaram demais e que não vão aceitar operações a qualquer preço.

A Sabesp, companhia de saneamento de São Paulo, aprovou uma emissão de R$ 1,5 bilhão em debêntures. Os bancos coordenadores da oferta, BTG Pactual e Safra, concederam a garantia firme somente para a metade da operação. Os R$ 750 milhões restantes sairiam a partir de “melhores esforços de colocação”.

De acordo com informações de mercado, a operação alcançou perto de R$ 860 milhões – foi colocado, portanto, cerca de 60% do que a empresa pretendia captar. O mercado considerou que as taxas de remuneração oferecidas estavam muito baixas.

emissão tinha duas séries. Uma, de cinco anos, oferecia CDI mais 0,49%; e outra, de sete anos, CDI mais 0,66%. A Sabesp possui um outro papel no mercado que vence em 2022 e que está sendo negociado no secundário a CDI mais 0,50%. Assim como aconteceu com a oferta da Localiza mês passado, os novos papéis estavam com prazo maior, o que equivale dizer mais risco, e com taxas menores.

De acordo com fontes, a oferta foi parcialmente colocada sem que os bancos encarteirassem a operação. Assim como fizeram na Localiza, eles optaram por abrir mão das comissões que receberiam na operação e transferiram isso para o investidor, vendendo os papéis com um deságio em relação ao preço inicial para compensar as taxas mais baixas. Nesse caso, os bancos acabaram trabalhando de graça e a operação fechou de forma favorável para a empresa, que conseguiu captar a taxas que o mercado considerou muito baratas.

O caso da Ecorodovias foi mais atípico. A empresa saiu com uma oferta de R$ 900 milhões, coordenada por BTG, ABC e Itaú BBA. No meio das reuniões para a apresentação da oferta a investidores, houve uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal em um dos ativos da companhia – uma das rodovias administradas por ela, num trecho no Paraná que tem pouca relevância no resultado da empresa.

A companhia informou ter colaborado com as autoridades e que instaurou uma auditoria interna para apurar os fatos apontados pela PF. No ano passado, a Ecorodovias havia sido mencionada em um inquérito do Ministério Público Federal e instaurou um comitê independente para apurar eventuais irregularidades. A Fitch alterou o rating da empresa de neutro para negativo em março, como reflexo de incertezas sobre penalidades que podem ser aplicadas a subsidiárias da companhia em função da investigação do MPF.

Isso serviu para que os investidores pedissem mais retorno para ficar com os papéis. A série de prazo de cinco anos foi inicialmente ofertada a CDI mais 0,75%. Mas só houve demanda do investidor com o papel pagando CDI mais 1,30%. Na de sete anos, a empresa queria pagar CDI mais 1%, mas o mercado só aceitou CDI mais 1,65%.

A garantia firme que os bancos dão para essas operações de debêntures é uma espécie de seguro. Como houve um evento inesperado no meio do caminho, eles puderam alterar as condições. Ou seja, diferentemente do caso da Sabesp, na oferta de Ecorodovias, a “conta” ficou com a empresa, que teve de concordar em pagar mais aos investidores ou encarecer os custos de sua captação. As empresas e bancos citados não deram entrevista.