Por Roberto Rockmann – Valor Econômico

12/04/2019 – 05:00

Após ter alcançado 1,76% do PIB em 2018, o mais baixo nível histórico, o investimento em infraestrutura deve se recuperar lentamente a partir deste ano, quando poderá atingir 1,88%, mas só chegará perto dos níveis vistos em 2011 (2,27%) em 2030, quando deverá chegar a 2,21%, segundo estudo da Pezco.

A recessão, a crise fiscal, os efeitos da Operação Lava-Jato e os problemas em concessões entre 2012 e 2016 tiveram impacto sobre o volume de recursos aplicados no setor. Embora as carteiras de energia, telecomunicações e saneamento tenham espaço para crescer, a única fonte de expansão consistente para elevar os investimentos totais acima da marca de 2% do PIB virá, em grande parte, do setor de transportes, segundo Fred Turolla, sócio da consultoria. Em telecom, o motor será o 5G, em energia elétrica, fontes renováveis; em saneamento, o novo marco regulatório. Isso a depender da retomada do crescimento econômico e das reformas.

Os leilões de março realizados pelo governo federal, de aeroportos e da ferrovia Norte-Sul, reforçam essa percepção. De um nível de investimentos de 0,5% do PIB em transportes, a consultoria prevê uma elevação até 0,8% do PIB em pouco mais de uma década. “Isso pode ser maior e o grande destaque serão os trilhos. As ferrovias deverão ter um papel mais importante no escoamento e o leilão da Norte-Sul aponta isso”, destaca.

Em março, a Rumo venceu o leilão do trecho de 1,5 mil km da ferrovia NorteSul com um lance de R$ 2,7 bilhões – ágio de 100,92%. O trecho que foi leiloado tem 1.537 km e vai de Porto Nacional, no Tocantins, a Estrela d’Oeste, em São Paulo. A ferrovia é tida como um dos principais projetos para escoamento da produção agrícola do país. Os investimentos devem chegar a R$ 2,7 bilhões.

Outras ferrovias deverão ser leiloadas, como a Ferrogrão, que será importante via de escoamento de grãos no Cerrado e ligará por trilhos os municípios de Sinop (MT) ao Porto de Miritituba (PA) e poderá envolver R$ 12 bilhões em recursos. Além de novos projetos, as concessionárias atuais discutem a renovação antecipada dos contratos, o que poderá alavancar novos investimentos, sendo o principal deles a construção do tramo norte do Ferroanel.

Entre as prováveis obrigações da MRS Logística, cuja malha corta os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, está a construção do Ferroanel na Região Metropolitana de São Paulo, considerado um dos maiores gargalos logísticos do país. Projeto de R$ 3,4 bilhões, será um ramal ferroviário de 53 km de extensão que interligará as estações de Perus, em São Paulo, e de Manoel Feio, em Itaquaquecetuba, em área contígua ao traçado do Rodoanel. Sua implantação possibilitará que os trens de carga que hoje compartilham os mesmos trilhos com os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) sejam desviados, eliminando o conflito entre cargas e passageiros nos trilhos que cortam o interior da metrópole.

As projeções indicam a retirada a médio prazo de 2,8 mil caminhões por dia das estradas, com possibilidade de esse número superar 7,3 mil caminhões diários ao longo do tempo.

O setor de saneamento é outro com potencial para ser destravado com a aprovação da Medida Provisória (MP) 868, que tramita na Câmara e regula a abertura do mercado. A MP tem prazo até 3 de junho para ser votada. Na redação original, ela obriga que a celebração ou renovação de contrato entre empresa estatal e município seja feita sob concorrência pública.

Hoje as companhias estaduais respondem por dois terços do mercado e sua base está assentada em contratos de programa com municípios, muitas vezes renovados automaticamente sem concorrência. “Isso pode criar uma onda de eficiência e trazer novos paradigmas, é o último setor ainda com grande participação do Estado”, aponta Turolla, da Pezco.

A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estima que ano passado os investimentos em infraestrutura somaram pouco mais de R$ 113 bilhões, praticamente o mesmo volume de 2017, quando atingiram R$ 110 bilhões. O resultado está muito aquém do necessário: com os gargalos existentes, o país deveria investir R$ 284 bilhões anuais, ou 4,3% do PIB em infraestrutura. “Superar a situação exigirá capital privado e público, é uma combinação de esforços”, afirma Venilton Tadini, presidente da entidade.