Por Arícia Martins – Valor Econômico

04/04/2019 – 05:00

A meta da equipe econômica de levantar US$ 20 bilhões em privatizações neste ano deve ser superada em ao menos 50%, previu ontem o secretário especial de Desestatização e Desinvestimento, Salim Mattar, que negou estar frustrado com o ritmo das vendas de ativos do governo. Do total pretendido para 2019 pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, US$ 3,4 bilhões já foram conseguidos, disse, e mais US$ 9 bilhões devem ser obtidos com a comercialização da TAG, rede de gasodutos da Petrobras.

O Brasil tem 440 estatais, das quais 134 pertencem à União, comentou Mattar, que participou de painel no Brazil Investment Forum, organizado pelo braço de investimentos do Bradesco, em São Paulo. Privatizar todas elas é um desafio, mas o objetivo de vender o máximo possível de companhias tem como horizonte os quase quatro anos restantes de governo, apontou, reiterando que Petrobras, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES não fazem parte do pacote.

“Vai sim acontecer um grande processo de desinvestimento, desestatização e privatização neste governo”, disse o secretário. Essa agenda, de acordo com ele, ganhará fôlego no segundo semestre e no próximo ano, atingindo seu ápice em 2021.

Para ajudar a diminuir a dívida pública e reduzir o tamanho do Estado, a meta é não só se desfazer das estatais, mas também desalavancar bancos públicos, que precisam devolver empréstimos feitos pelo Tesouro, vender imóveis que são propriedade da União e deslanchar as concessões de infraestrutura, dentro do Programa de Parcerias de Investimentos [PPI], observou.

Somando todas essas receitas, o governo estima um potencial de quase R$ 1 trilhão que pode ir para o caixa da União ao longo de todo o governo Bolsonaro, destacou Mattar, dos quais quase metade (R$ 490 bilhões) viria das privatizações de estatais geridas pelo governo federal.

A Secretaria de Desestatização está também trabalhando num plano para ajudar Estados a se desfazerem de suas estatais locais, acrescentou o secretário, o que pode melhorar a grave situação fiscal desses entes federados. Segundo Mattar, ele fará um road-show com governadores dos dez principais Estados, para levantar quais são as necessidades de recursos de cada um deles e também o total de ativos que podem ser vendidos.

Mattar ressaltou ainda que a reforma da Previdência é a maior prioridade do governo no momento e, apesar de reconhecer as chances de desidratação do projeto em meio à sua tramitação no Congresso, apontou que a equipe econômica ainda trabalha com a estimativa de ganho fiscal de R$ 1 trilhão em dez anos.

O secretário elogiou a capacidade de negociação do ministro da Economia, a quem caberá o papel de fazer a articulação política com parlamentares para que o texto seja aprovado. “Guedes assume uma responsabilidade espetacular na reforma da Previdência”, comentou. “Ele tem admiração de Rodrigo Maia [presidente da Câmara] e do Senado”, acrescentou o secretário, para quem Guedes é “um líder nato”.

Ele também aproveitou o evento para refutar que está decepcionado com o andamento das vendas de ativos do governo, referindo-se à entrevista publicada pela revista “Veja” na semana passada.